quarta-feira, 27 de julho de 2016

5.6.3 Consciente - Da sua dificuldade de lógica pura.

5.6.3      Consciente - Da sua dificuldade de lógica pura.


É a percepção de que sofremos uma grande dificuldade para evitarmos a influência do subconsciente. O subconsciente, influenciado por inúmeras percepções que capta do ambiente, misturadas a outras tantas que captou no passado. Ele nos inunda com gostos, sentimentos e desejos de pouca base lógica. Deste modo, nossos gostos, sentimentos e desejos representam uma construção contaminada. E da mesma forma que mencionamos sobre o quebra-cabeças do conhecimento. Ao tomarmos decisões, estes sentimentos, gostos e desejos contaminados, contaminam toda lógica futura. Um maior nível de lógica costuma ser uma característica que leva a decisões mais acertadas. E em muitos momentos da vida precisamos nos livrar dos sentimentos e executarmos pensamentos puramente lógicos e racionais. Como na expressão do latim “aequo animo” que significa: decidir com equilíbrio de julgamento, com isenção de ânimo, sem influências da vontade. Usando apenas o recurso da lógica e racionalidade para guiar o processo decisório.
Pa muitos filósofos este é o grande desafio do ser humano, Isto requer uma grande capacidade de reflexão e autocritica. O prêmio para estes super-humanos é uma real liberdade, pois isto lhes dá maior capacidade de autonomia ou autodeterminação.
Como diria o filosofo Kant, ser livre é ser autônomo, isto é, dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Pois o que difere o homem dos outros animais é a sua capacidade de pensar para agir.
“Quando nós, tal como os animais buscamos o prazer ou a satisfação de nosso desejos, ou buscamos evitar o sofrimento. Não estamos agindo livremente, estamos agindo como escravos desses apetites e impulsos.“
Para Kant, a liberdade é o oposto da necessidade. Como quando você sente necessidade de consumir um produto oferecido por propagandas psicologicamente estudadas. Você ira pensar que sua escolha foi sua, mas na realidade você está obedecendo a um desejo que não foi você que escolheu ou criou.
Kant tenta nos fazer perceber que ao associarmos a ideia de felicidade com ideia de acúmulo de desejos saciados. Nos expomos a um vício comparável ao da heroína ou crack. Tendemos a priorizar a busca pelos prazeres dos sentidos e das vaidades, sem perceber que quanto mais se sacia um prazer biológico ou vaidoso, mais extravagantes e intensos estes prazeres terão de ser futuramente, a fim de se obter o mesmo nível de satisfação.
Este mesmo perigo foi sabiamente identificado por Epicuro, que buscou construir uma nova sociedade baseada na simplicidade. Em manter a consciência focada em valorizar os prazeres que geram felicidade e não se desgastam. Como comer, dormir, conviver com amigos, carinho, sexo – Fontes de felicidade naturais e necessárias, que facilmente podem nos dar prazer por toda a vida se forem praticadas com moderação. O exagero pode promover a perda da sensibilidade ao prazer. Para Epicuro a felicidade só requer três coisas: liberdade, amigos e tempo para filosofar.
“Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros são naturais e não necessários; outros nem naturais nem necessários, mas nascidos apenas de uma vã opinião.” Epicuro
É importante entender o significado destas palavras para Epicuro.
Em seus textos “liberdade” é definida como autossuficiência. Por este motivo ele construiu e viveu em uma comunidade agrícola que ficou conhecida como o Jardim de Epicuro. Lá ele e seus amigos plantavam e viviam de forma autossuficiente. Portanto, quando ele se refere a necessidade de “amigos” poderíamos interpretar como a necessidade do coletivo. Já a necessidade de “tempo para filosofar” como sendo o tempo para manter-se focado no estudo e manutenção da felicidade.
Estudiosos acreditam que ele tenha escrito mais de trezentas obras. Porem poucos textos ou referências a seus pensamentos sobreviveram a destruição do conhecimento humano promovida pela igreja na idade média.
Confira abaixo trechos de uma carta que Epicuro escreveu a Meneceu, um de seus discípulos. Escrita por Epicuro por volta de 300 a.C, também conhecida por Carta sobre a felicidade, e trata de uma questão fundamental para a Filosofia, que diz respeito a como podemos alcançar a felicidade e de como nos mantermos felizes.
“Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para este estudo ainda não chegou ou já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir. Temos portanto de estudar o meio de assegurar a felicidade, visto que se a tivermos, temos tudo, mas se não a tivermos, fazemos tudo para a obter.
...
Tal como não escolhe a comida da qual há maior quantidade mas a que é mais agradável, também não procura a satisfação da vida mais longa mas sim a da mais feliz.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem é tolo não apenas porque a vida é desejável para ambos, mas também porque a arte de viver bem e a arte de morrer bem são uma só. Contudo, muito pior é quem diz que é bom não ter nascido mas, uma vez nascido, que o melhor é passar depressa pelos portões do Hades.
Se um homem diz isto e realmente acredita nisto, por que razão não se retira da vida? Certamente que os meios estão à mão se for realmente essa a sua convicção. Se o diz a zombar, é visto como um tolo entre quem não aceita o seu ensinamento.
Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, de modo que nem podemos contar com a certeza que ele virá, nem contarmos com a certeza de que não virá e acabarmos abandonando a esperança nele.
Tens de considerar que alguns desejos são naturais, outros vãos (fúteis), e dos que são naturais alguns são necessários e outros apenas naturais. Dos desejos naturais, alguns são necessários para a felicidade, alguns para o bem-estar do corpo, alguns para a própria vida. O homem que tem um conhecimento perfeito disto saberá como fazer toda a sua escolha ou rejeição tender para ganhar saúde do corpo e serenidade da mente, dado que este é o fim último da vida bem-aventurada. Em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo. Quando se atinge esta condição, toda a tempestade da alma sossega, dado que a criatura nada mais precisa de fazer para procurar algo que lhe falte, nem de procurar qualquer outra coisa para completar o bem-estar da alma e do corpo.
De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos com sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.
É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todo o prazer deve ser escolhido. Do mesmo modo, toda dor é um mal, contudo, nem toda dor deve ser evitada em todas as ocasiões. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Sob certas circunstâncias devemos tratar o bem como mal e, igualmente, o mal como bem.
Encaramos a autossuficiência como um grande bem, não para que possamos desfrutar apenas de poucas coisas, mas para que, se não tivermos muitas, nos possamos satisfazer com as poucas, estando firmemente persuadidos de que quem retira o maior prazer do luxo é quem o encara como menos preciso, e que tudo o que é natural se obtém facilmente, ao passo que os prazeres vãos são difíceis de obter.
Na verdade, os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela dependência. Pão e água dão o máximo prazer quando uma pessoa necessitada os consome.
Habituar-se à vida simples e básica conduz à saúde e faz um homem ficar pronto a enfrentar as tarefas necessárias da vida. Prepara-nos também melhor para usufruir o luxo se por vezes tivermos a sorte de o encontrar, e faz-nos intrépidos face à fortuna.
Quando dizemos que o prazer é o fim, não queremos dizer o prazer do extravagante ou o que depende da satisfação física — como pensam algumas pessoas que não compreendem os nossos ensinamentos, discordam deles ou os interpretam malevolamente — mas por prazer queremos dizer o estado em que o corpo se libertou da dor e a mente da ansiedade.
Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem o amor sexual, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que promovem  a vida feliz, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as falsas crenças que promovem a perturbação da mente.
De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia ; é dela que originaram todas as demais virtudes...”  Epicuro - Carta a Meneceu
A essência de sua filosofia epicurista, está na ideia de que a vida deve ser feita de escolhas prudentes, que visem não apenas o momento, mas o resultado delas para a vida como um todo. É desta visão a longo prazo e num contexto global que ela proclama que devemos refletir sobre nossos desejos e escolhas.
Assim como Epicuro, também Kant, identifica que a liberdade é sinônimo de autonomia. Liberdade é quando conseguimos superar nossos gostos, sentimentos e desejos a fim de escolher racionalmente nossas próprias regras de conduta. É quando, após grande reflexão, impomos leis a nos mesmos! Neste momento estamos exercendo a verdadeira autonomia, estamos agindo livres de nossos impulsos irracionais ou de influências culturais.
Obviamente que Epicuro vai além, e defende que esta autonomia sobre os desejos deve ser direcionada a autossuficiência e a vida simples como forma de evitar o desgaste dos sentidos e preservar a habilidade de sentir os prazeres que a natureza nos proporciona de forma tão fácil e segura. Em outro texto, Epicuro afirma:
“Graças sejam rendidas à bem-aventurada Natureza que fez com que as coisas necessárias sejam fáceis de alcançar e que as coisas difíceis de alcançar não sejam necessárias”

Em resumo, o que concluo destes dois pensadores é que: Quem deixa sua vida ser guiada por gostos e desejos, sem perceber, é um escravo. E será escravizado por todos que souberem lhe provocar desejos. Somente pode considerar-se livre aquele que, a luz da ciência e da razão, escolhe seus gostos e desejos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

sábado, 13 de fevereiro de 2016

As muitas Faces da felicidade

http://www.suzannpileggi.com/wp-content/uploads/2014/02/Pileggi_happy.pdf

SCIENTIFIC AMERICAN MIND September/October 2011


As muitas faces da felicidade

Reviravoltas culturais no conceito sugerem novas maneiras de levantar sua moral e tornando-o mais satisfeito com vida.
por Suzann Pileggi Pawelski


(O autor) SUZANN PILEGGI PAWELSKI detém um mestrado em psicologia positiva aplicada (MAPP) da Universidade da Pensilvânia. Ela é uma escritora freelance e repórter de televisão na Filadélfia especializada na ciência da felicidade.



Lankasana, um guerreiro Maasai de 23 anos, atlético, longos cabelos trançados, tingido de ocre, carrega um arco e flecha, uma espada curta e uma lança com ponta de aço. Ele passa seus dias invadindo aldeias vizinhas e proteger sua própria tribo de ataques de animais selvagens.  Para se divertir, ele luta com companheiros da tribo e pratica lançando lanças em troncos de árvore. Lankasana uma vez matou um leão armado apenas com uma espada, mas não antes do leão arranhar seu ombro, deixando cicatrizes enormes.


Vivem em aldeias remotas na África Oriental, os Massai constroem simples casas de barro, esterco e paus. Esses caçadores-coletores não têm água corrente ou eletricidade e mínima exposição à mídia e a sociedade ocidental. Eles se envolvem em rituais que podem parecer pouco atraentes para os ocidentais, tais como a circuncisão adolescente, beber sangue de bovino de pequenos cortes no animal. Psicólogo Ed Diener da Universidade de Illinois e seu filho, o psicólogo Robert Biswas-Diener da Portland State University, viajaram para as aldeias remotas do Maasai no sul do Quênia e Tanzânia do Norte várias vezes nos últimos 15 anos. A equipe de pai e filho está na vanguarda da investigação tentando desvendar os ingredientes da felicidade.

Diener, é um dos principais investigadores desta área e já havia realizado dezenas de estudos sobre a felicidade em todo o mundo. Mas como a maioria dos estudos são feitos nas sociedades industriais, ele e seu filho estavam curiosos para ver como grupos que não vivem em culturas modernas, tais como os Maasai, iriam se sair nos índices de felicidade. As perguntas dos investigadores faziam parte de um projeto maior para medir a felicidade em todo o globo. Primeiro, realizado em 2005, a Gallup World Poll é uma tentativa de avaliar como os indivíduos estão se saindo em vários índices de bem-estar, economia e saúde, entre outras medidas. A pesquisa abrange cerca de 155 países, uma amostra representativa de 98 por cento da população mundial. "O que descobrimos é que os países variam muito em felicidade" diz Diener, que também é cientista sênior da Gallup. Os resultados emergentes da pesquisa mundial sugerem que a sociedade e a cultura podem desempenhar um grande papel através da importância que colocam sobre as emoções positivas e crenças sobre como alcançar um estado de bem-estar. Ao mesmo tempo, o fato de que pessoas tão diferentes como os Maasai e os dinamarqueses podem alcançar alegria sugere que os seres humanos podem obter prazer e satisfação em muitas maneiras diferentes.



Felicidade floresce em muitas culturas não industriais. Em uma pesquisa mundial, o Maasai Africano tem alto escore por um fator importante: se sentir bem. Os Amish também experimentam alto nível de alegria. Costa-riquenhos alegadamente possuem os sentimentos mais positivos de qualquer cultura no mundo.


FATOS RÁPIDOS alegria no mundo
1 >> O Gallup World Poll, que inclui uma avaliação psicológica de pessoas em 155 países, mostra que as nações variam enormemente em quão felizes são seus cidadãos.
2 >> cientistas têm associados a felicidade com o chamado capital social, que inclui medidas de cooperação e confiança pública. Orgulho nacional também pode melhorar a sua qualidade de vida.
3 >>Em algumas culturas pessoas avaliam a sua satisfação com a vida de acordo com o quão bem eles vivem de acordo com as normas sociais; cidadãos em outros lugares basear o seu julgamento em quão bem eles estão se sentindo.



Uma riqueza de sentimentos bons

No florescente campo da psicologia positiva, os investigadores ainda estão tentando chegar a acordo sobre a definição de felicidade. Alguns avaliam este estado, em termos emocionais. Outras cientistas acreditam que a felicidade vem de uma avaliação mais fundamentada de satisfação de vida. Para capturar as duas facetas, Diener mede algo que ele chama de bem-estar subjetivo, que combina relatórios emocionais com auto-avaliações cognitivas em vários domínios, tais como trabalho, renda e relacionamentos. Biswas-Diener utilizou tal teste quando interrogou os Maasai. Os 358 participantes relataram como se sentiam sobre sua vida em geral e quantas vezes no último mês eles experimentaram a alegria e diversão, entre outras emoções. Além disso, os entrevistados classificaram sua alimentação, amizades, saúde e outros aspectos importantes de suas vidas. Para sua surpresa, Biswas-Diener e seus colegas descobriram que os moradores de Maasai estão muito felizes, mais felizes do que muitas outras pessoas em circunstâncias semelhantes e tão feliz como muitas pessoas que vivem em sociedades desenvolvidas.  Ele e Diener — juntamente com o psicólogo social Joar Vitterso da Universidade de Tromso, na Noruega — também testou dois outros grupos levando suas vidas em artigos não sociedades, os Amish americanos e as pessoas Inuits da Groenlândia. Eles descobriram que todos os três grupos avaliados possuiam alto nível de bem-estar subjetivo, com os Maasai, obtendo o melhor de todos. Mas em especifico item, renda e alimentos, os quais estão relacionados a recursos materiais — os Maasai foram os menos satisfeitos que os Amish e Inuits. O Maasai também estavam abaixo em suas opiniões sobre sua saúde geral e o acesso a cuidados médicos em comparação com as pessoas nas sociedades modernas, diz Diener. No entanto, "em uma escala global, os Maasai são bastante felizes com a vida", conclui Diener. O fato de que os Maasai avaliado seus recursos materiais mal poderia sugerir que o dinheiro pode comprar, pelo menos, alguns tipos de felicidade. Parece ter um efeito mais forte na satisfação geral do que as emoções positivas [ver caixa na página 54]. Enquanto as necessidades básicas são atendidas, no entanto, dinheiro parece não ter muito de um efeito. Por exemplo, pesquisa sugere que, embora os E.U. é economicamente mais rico do que a Dinamarca, os dinamarqueses são psicologicamente melhor. A diferença pode estar na habilidade de uma pessoa para confiar em boas intenções de outras pessoas. Cientistas têm associados a felicidade com o chamado capital social, que inclui medidas de cooperação e confiança pública. Em uma pesquisa em 2010 da população dinamarquesa, Biswas-Diener, Vittersø e Diener encontrada a maioria dos dinamarqueses expressa fé em seus setores governamentais e empresariais e acreditam que eles retornam seu investimento.  Em contraste, os americanos visualizaram ambos tão corruptos e duvidava um que seus que esta instituiçoes lhe retornem algo positivo. Os investigadores analisaram também capital social em ambas as sociedades usando um "índice lei e ordem" incluído em a Gallup World Poll.
O rating reflete a confiança entrevistados na polícia local, o quão seguro eles se sentem ao andar sozinho à noite, e se eles ou alguém próximo a eles tinham experimentado recentemente um roubo. Dinamarqueses marcou significativamente maior neste índice que os americanos fizeram.
Mas outro fator poderia imperam sobre nossas percepções de felicidade. Anteriormente Deiner tinha encontrado provas de que o materialismo é associado com a infelicidade.

E na Coreia do Sul, bem-estar subjetivo é baixa, apesar da sua prosperidade econômica. em um discurso em 2010 para coreano Psychological Association, Diener apresentados dados recolhidos em todo o mundo a partir de participantes que foram solicitados a classificar em uma escala de 1 a 9 o quanto eles valorizam a riqueza material. os sul-coreanos relatam o alto índice de 7,24 em relação a outros países economicamente abastados como os EUA com 5,45, e o Japão com 6,01.

Coreia do Sul também se classifica mal no nível de felicidade entre os países ricos, de acordo com a pesquisa do Gallup World Poll. Raiva e depressão são comuns na Coreia do Sul, e a taxa de suicídio é a mais elevada dos 34 países mais ricos do mundo. Embora várias fatores possam  contribuir para esta situação, pesquisadores acreditam que uma maior concorrência entre os cidadãos cria um ambiente mais estressante que o geral. Por exemplo, as universidades da Coreia do Sul não são nem suficientemente grande nem suficientemente numerosas para acomodar o grande número de jovens trabalhadores que se aplicam a cada ano, negando a muitos adolescentes o acesso à porta de entrada crucial para o emprego.


Cidadãos Sanguine

O caso da Coreia do Sul é apenas mais  uma evidência de que dinheiro e felicidade não necessariamente andam de mãos dadas. Costa Rica é uma nação muito mais feliz e com a renda per capita apenas metade da Coreia do Sul. "A felicidade na nações latino-americanas é maior do que seria de esperar com base na sua riqueza", diz o sociólogo Ruut Veenhoven, da Universidade Erasmo de Rotterdam e diretor do World Database of Happiness, um registro permanente de estudos científicos. .



Costa Rica e alguns de seus vizinhos são fartos nos ingredientes que os pesquisadores definem como mais importante para a felicidade, fatores sociais e psicológicas, tais como fortes laços com a família e amigos, sendo geralmente capazes de confiar em estranhos, dominando habilidades específicas e sentindo-se respeitado por outros. Outra fonte de felicidade parece vir de pensar muito bem de sua pátria. Em um estudo publicado em fevereiro de 2011 Universidade de Illinois estudantes de graduação Mike Morrison e Louis Tay, juntamente com Diener, analisaram respostas de 132,516 pessoas em 128 países que haviam avaliado o sua satisfação com a vida no passado, presente e futuro (incluindo seu padrão de vida, trabalho e saúde), bem como a sua satisfação com o seu país, em uma escala de 1 a 10.


Os pesquisadores descobriram que os cidadãos pobres de nações não ocidentais, como Bangladesh e na Etiópia, valorizam a satisfação nacional mais do que aqueles de nações ocidentais mais ricas, como os EUA e Dinamarca. Os cidadãos destas nações mais ricas tendem a dar mais importância a fatores pessoais como a qualidade de vida e saúde. A constatação de que aqueles que se sentiu bem sobre o seu país também tendem a relatar uma maior qualidade de vida foi mais dramático nos países pobres, onde a vida diária é um desafio e as pessoas têm dificuldade em atender as necessidades básicas. Nestes locais, o bem-estar dos cidadãos depende mais de fatores externos tais como as suas percepções do seu sucesso da comunidade.


Mas um sentimento de pertença, dizem os pesquisadores, pode ser uma importante fonte de felicidade e satisfação com a vida para todos. De acordo com a teoria da identidade social, encaixar-se com um grupo é parte integrante da identidade de um indivíduo, em "usando seus sentimentos de auto-estima [ver" The Cure social ", por Jolanda Jetten, Catherine Haslam, S. Alexander Haslam e Nyla R. Branscombe; Scientific American Mind, setembro / Outubro de 2009] ao mudar o foco de nossas vidas individuais para o nosso país, nós, ocidentais, podemos ser capazes de explorar esta fonte de prazer.

Ainda assim, nossa capacidade de alcançar um sentido de pertencimento pode ser limitada por quão bem nós combinamos nossa cultura. Em um estudo publicado no início deste ano o psicólogo Ashley Fulmer da Universidade de Maryland, juntamente com Diener e seus colegas, pesquisados mais de 7.000 pessoas de 28 países para examinar como a personalidade e cultura interagem para afetar o bem-estar.

Os pesquisadores  descobriram que ser extrovertido aumenta o bem-estar somente se a maioria das pessoas na cultura da mesma forma são extrovertidas. Em outro estudo (a ser publicado no Journal of Personality e Psicologia Social), Diener e seus colegas descobriram que indivíduos religiosos beneficiam-se psicologicamente se eles vivem em uma sociedade onde a religião é generalizada. Da mesma forma, uma extrovertida em um país "introvertido", como o Japão ou uma pessoa religiosa, vivendo num país "não religioso" como a Suécia é menos feliz do que uma pessoa cuja personalidade é um bom partido para a sociedade. "Caber em sua cultura é muito importante", diz Diener.

A extensão com que a pessoa se identifica com um grupo pode, por sua vez, influenciar se esse indivíduo vincula a felicidade com seus próprios sentimentos ou as noções de outros.

Em um estudo em 1998 de mais de 60.000 pessoas de 61 países, psicólogo Eunkook M. Suh, então na Universidade de Illinois, juntamente com Diener e seus colegas, observou que, ao avaliar a satisfação de vida, de membros de sociedades que enfatizam a identidade de grupo, como a China e a Índia, verificou que estes tendem a colocar o grande valor em normas sociais — ou seja, como seu comportamento é socialmente aceito. Em contraste, os membros de nações individualista como os Estados Unidos e Suécia baseiam sua felicidade quase exclusivamente em suas emoções.

Em uma cultura, social versus emocional encontramos muita variação. Em 2008 Suh, agora na Universidade de Yonsei em Seul, Coréia, Diener e psicólogo John Updegraff da Kent State University tinha 101 Europeu-americanos que preencheram um questionário sobre temas como quão freqüentemente eles experimentaram certas emoções e quão fortemente eles pensavam se os companheiros próximos aprovariam seu modo de vida. Os pesquisadores descobriram que alguns entrevistados focavam no que eles achavam que deveriam fazer ao invés do que eles gostariam de fazer.

Para estes indivíduos, felicidade dependia e era medida pelos olhos dos outros. Outros participantes dependiam muito mais fortemente de suas próprias emoções, atitudes e crenças pessoais para julgar sua satisfação com a vida.






Vida, liberdade e...
Alguns psicólogos argumentam que os métodos de medição da felicidade refletem mais a perspectiva de um ocidental do que de um Oriental sobre bem-estar. Pessoas de ascendência Oriental, vivendo nos EUA apresentam consistentemente níveis mais baixos de bem-estar subjetivo do que pessoas de heranças ocidentais, mas as avaliações podem não refletir o contentamento real.

Em vez disso pesquisas recentes indicam que os americanos com origem asiática não valorizam a presença de emoções positivas em suas vidas tanto quanto outros ocidentais fazem. Em um estudo publicado em 2009 psicólogo Derrick Wirtz de East Carolina University, juntamente com Diener e seus colegas, decidiu investigar o papel das memórias de 46 Europeus e asiático-americanos em férias. sete vezes por dia relatavam, até que ponto eles estavam se sentindo agradavel, sociável, calmo, feliz e alegre, bem como desagradável, irritado, culpado, triste e preocupado. Um mês depois de voltar para casa, os participantes tentaram se lembrar de quantas vezes eles tinham experimentado estas várias emoções durante sua viagem.

Eles também classificaram como provávelmente seria ir nas mesma férias novamente. Enquanto em suas férias, European- e AsianAmericans experimentou emoções positivas e negativas a um nível semelhante. Depois, no entanto, os europeus-americanos lembraram mais bons momentos do que os asiático-americanos fizeram, e AsianAmericans recordou sentimentos mais ruins. Se os europeus-americanos quiseram repetir suas férias foi relacionado com o número de emoções positivas que se lembravam, indicando que eles consideravam sentimentos positivos primordial; desejo asiático-americanos 'para refazer a viagem parecia amarrado, não só para bons sentimentos, mas também à ausência de emoções negativas, sugerindo que o sucesso em seus olhos é tanto sobre prevenção de maus resultados como promover os positivos.

Em um estudo semelhante publicado em 2002 psicólogo Shigehiro Oishi, da Universidade da Virgínia descobriram que os mesmos dois grupos classificaram seus dias como comparavelmente bom ou ruim, mas europeus-americanos lembrado estar mais feliz do que eles realmente eram, e asiático-americanos memórias 'eram mais em linha com os seus relatórios diários. "Nos países orientais, todo evento tem lados positivos e negativos.

Uma condição totalmente positivo é considerado muito improvável e, possivelmente relacionada a uma superficial da vida ", observa Antonella Delle Fave, psicóloga da Universidade de Milão, na Itália.



 Como o vê Delle Fave, orientais aprendem a separar-se de suas emoções, abraçando uma vida de regularidade, em vez de altos e baixos. Muitas pessoas vêem o sucesso como um importante ingrediente para a felicidade — e pode ser. Mas Diener recomenda cautela ao defender o sucesso como os americanos normalmente fazem. Além de positividade em si, ele diz que os americanos às vezes exageram na fama e fortuna e subestimam o uso de forças pessoais e a obtenção de resultados que beneficiar os outros. Diener diz sucesso aumenta o bem-estar, se se trata de excelência em atividades que respeitam você e outros, em vez de simplesmente fazer melhor do que outros.

Embora não saibamos ao certo por que os Maasai são tão felizes são, a hipótese de Diener e Biswas-Diener é que parte da razão está neles se concentrarem no que eles têm mais do que no que lhes falta. Além disso, eles têm muito respeito por si mesmo e possuam as habilidades que eles precisam para florescer, componentes crítico para saúde psicológica. Diener acrescenta. O Maasai variam em riqueza, mas as diferenças não são grandes, e todos vivem uma vida simples materialmente, explica Biswas-Diener, que pode significar que eles competem menos com o outro. Embora ninguém estar sugerindo que devemos comprar espadas e caçar leões (a prática pode adicionar aventura para nossas vidas), ainda podemos aprenda uma coisa ou duas de Lankasana. Diener que passássemos mais tempo fazendo o que nós apreciamos e são bons em, cuidando de um bem maior e uma ligação com os nossos amigos e família, conclui. Apenas ponderar essas idéias pode até ganhar um sorriso.


Asiático-americanos são realistas emocionais. Lembram-se seus sentimentos com mais precisão do que Europeu-americanos, que tendem a se lembrar de ser mais feliz do que eles realmente eram.

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O dinheiro pode comprar felicidade, mas talvez não da forma pensei. Em 2010, psicólogo Ed Diener da Universidade de Illinois e seus colegas relatou que dinheiro não diretamente ou dramaticamente levantar seus espíritos — mas isso pode aumentar a sua satisfação com a vida. Usando uma amostra de Gallup World Poll de aproximadamente 136.000 pessoas de 132 países, os pesquisadores perguntaram entrevistados para avaliar sua vida em uma escala de 0 a 10 e responder perguntas, revelando a extensão a que eles experimentaram diversas emoções positivas e negativas no dia anterior. Juntamente com o rendimento anual do agregado familiar, os pesquisadores auditados os bens de luxo participantes possuídos. Além disso, eles mediram fatores sociais e psicológicos: ontem te trataram com o respeito? Você tem família ou amigos, que você pode contar em caso de emergência? Você aprendeu algo novo durante o dia? Você conseguiu fazer o que sabe fazer melhor? Você pode escolher como você passou seu tempo? Os pesquisadores descobriram que esse padrão de vida previu a avaliação global de vida melhor do que o equilíbrio das emoções positivas e negativas. Ter suas necessidades psicológicas que conheceu, por outro lado, engendrado sentimentos mais positivos no dia avaliado. Assim, bens de luxo podem se sentir mais satisfeito mas não fazem sua vida mais agradável. A emoção de comprar um novo carro esporte ou televisão de plasma de 50 polegadas desaparece rapidamente, mesmo se você pode ficar orgulhoso de possuir esses itens.




(Leitura adicional)

(Further Reading)
◆ From Culture to Priming Conditions: Self-Construal In!uences on Life Satisfaction Judgments. Eunkook M. Suh, Ed Diener and John A. Updegraff in Journal of Cross-Cultural Psychology, Vol. 39, No. 1, pages 3–15; 2008.
◆ Happiness: Unlocking the Mysteries of Psychological Wealth. Ed Diener and Robert Biswas-Diener. Wiley-Blackwell, 2008.
◆ Wealth and Happiness across the World: Material Prosperity Predicts Life Evaluation, Whereas Psychosocial Prosperity Predicts Positive Feeling. Ed Diener, Weiting Ng, James Harter and Raksha Arora in Journal of Personality and Social Psychology, Vol. 99, No. 1, pages 52–61; 2010.
◆ Subjective Well-Being and National Satisfaction: Findings from a Worldwide Survey. Mike Morrison, Louis Tay and Ed Diener in Psychological Science, Vol. 22, pages 166–171; February 2011.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Epicuro - Carta a Meneceu - Tradução de Desidério Murcho

Carta a Meneceu

Epicuro
Tradução de Desidério Murcho
Epicuro a Meneceu, saudações.
Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para este estudo ainda não chegou ou já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade. Logo, tanto o jovem como o velho devem estudar filosofia, o primeiro para que à medida que envelhece possa mesmo assim manter a felicidade da juventude nas suas memórias agradáveis do passado, o último para que apesar de ser velho possa ao mesmo tempo ser jovem em virtude da sua intrepidez perante o futuro. Temos portanto de estudar o meio de assegurar a felicidade, visto que se a tivermos, temos tudo, mas se não a tivermos, fazemos tudo para a obter.
Pratica e estuda sem cessar aquilo que estava sempre a ensinar-te, tendo a certeza de que estes são os primeiros princípios da vida boa. Depois de aceitar deus como o ser imortal e bem-aventurado descrito pela opinião popular, nada mais lhe atribuas que seja estranho à sua imortalidade ou à sua bem-aventurança, mas antes acredita acerca dele seja o que for que possa sustentar a sua imortalidade bem-aventurada. Os deuses existem realmente, pois a nossa percepção deles é clara; mas não são como a multidão os imagina, pois a maior parte dos homens não retêm a imagem dos deuses que primeiro recebem. Não é o homem que destrói os deuses da crença popular que é ímpio, mas antes quem descreve os deuses nos termos aceites pela multidão. Pois as opiniões da multidão sobre os deuses não são percepções mas antes falsas suposições. De acordo com estas superstições populares, os deuses enviam grandes males aos perversos, e grandes bem-aventuranças aos íntegros, pois, sendo sempre favoráveis às suas próprias virtudes, aprovam quem é como eles, encarando como estranho tudo o que é diferente.
Habitua-te à crença de que a morte não nos diz respeito, dado que todo o mal e todo o bem assentam na sensação e a sensação acaba com a morte. Logo, a crença verdadeira de que a morte nada é para nós faz uma vida mortal feliz, não ao acrescentar-lhe um tempo infinito, mas ao eliminar o desejo de imortalidade.
Pois não há razão para que o homem que tem plena certeza de que nada há a recear na morte encontre algo que recear na vida. Assim, também é tolo quem diz que receia a morte não por ser dolorosa quando chegar mas por ser dolorosa a sua antecipação; pois o que não é um peso quando está presente é doloroso sem razão quando é antecipado. A morte, o mais temido dos males, não nos diz consequentemente respeito; pois enquanto existimos a morte não está presente, e quando a morte está presente nós já não existimos. Nada é portanto nem para os vivos nem para os mortos visto que não está presente nos vivos, e os mortos já não são.
Mas os homens em geral por vezes fogem da morte como o maior dos males, por vezes almejam-na como um alívio para os males da vida. O homem sábio nem renuncia à vida nem receia o seu fim; pois a vida não o ofende, nem supõe que não viver é de algum modo um mal. Tal como não escolhe a comida da qual há maior quantidade mas a que é mais agradável, também não procura a satisfação da vida mais longa mas sim a da mais feliz.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem é tolo não apenas porque a vida é desejável, mas também porque a arte de viver bem e a arte de morrer bem são uma só. Contudo, muito pior é quem diz que é bom não ter nascido mas, uma vez nascido, que o melhor é passar depressa pelos portões do Hades.
Se um homem diz isto e realmente acredita nisto, por que razão não se retira da vida? Certamente que os meios estão à mão se for realmente essa a sua convicção. Se o diz a zombar, é visto como um tolo entre quem não aceita o seu ensinamento.
Lembra-te que o futuro nem é nosso nem é completamente não nosso, de modo que nem podemos contar que virá de certeza nem podemos abandonar a esperança nele com a certeza de que não virá.
Tens de considerar que alguns desejos são naturais, outros vãos, e dos que são naturais alguns são necessários e outros apenas naturais. Dos desejos naturais, alguns são necessários para a felicidade, alguns para o bem-estar do corpo, alguns para a própria vida. O homem que tem um conhecimento perfeito disto saberá como fazer toda a sua escolha ou rejeição tender para ganhar saúde do corpo e paz de espírito, dado que este é o fim último da vida bem-aventurada. Pois para alcançar este fim, nomeadamente a libertação da dor e do medo, fazemos tudo. Quando se atinge esta condição, toda a tempestade da alma sossega, dado que a criatura nada mais precisa de fazer para procurar algo que lhe falte, nem de procurar qualquer outra coisa para completar o bem-estar da alma e do corpo. Pois só sentimos a falta de prazer quando sentimos dor com a sua ausência; mas quando não sentimos dor já não precisamos de prazer. Por esta razão, dizemos que o prazer é o princípio e o fim da vida bem-aventurada. Reconhecemos o prazer como o bem primeiro e natural; partindo do prazer, aceitamos ou rejeitamos; e regressamos a isto ao ajuizar toda a coisa boa, usando este sentimento de prazer como o nosso guia.
Precisamente porque o prazer é o bem principal e natural, não escolhemos todo o prazer, mas por vezes abstemo-nos de prazeres se estes forem cancelados pelas privações que se seguem; e consideramos muitas dores melhores do que prazeres quando um maior prazer virá até nós depois de termos sofrido dores demoradas. Todo o prazer é um bem dado ter uma natureza congénere da nossa; contudo, nem todo o prazer deve ser escolhido. De igual modo, toda a dor é um mal, contudo nem toda a dor é de natureza a ser evitada em todas as ocasiões. Pesando e olhando para as vantagens e desvantagens, é apropriado decidir todas estas coisas; pois em certas circunstâncias tratamos o bem como mal e, igualmente, o mal como bem.
Encaramos a auto-suficiência como um grande bem, não para que possamos desfrutar apenas de poucas coisas, mas para que, se não tivermos muitas, nos possamos satisfazer com as poucas, estando firmemente persuadidos de que quem retira o maior prazer do luxo é quem o encara como menos preciso, e que tudo o que é natural se obtém facilmente, ao passo que os prazeres vãos são difíceis de obter. Na verdade, temperos simples dão um prazer igual ao dos banquetes pródigos quando a dor devida à necessidade for removida; e pão e água dão o máximo prazer quando uma pessoa necessitada os consome. Estar acostumado à vida simples e básica conduz à saúde e faz um homem ficar pronto a enfrentar as tarefas necessárias da vida. Prepara-nos também melhor para usufruir o luxo se por vezes tivermos a sorte de o encontrar, e faz-nos intrépidos face à fortuna.
Quando dizemos que o prazer é o fim, não queremos dizer o prazer do extravagante ou o que depende da satisfação física — como pensam algumas pessoas que não compreendem os nossos ensinamentos, discordam deles ou os interpretam malevolamente — mas por prazer queremos dizer o estado em que o corpo se libertou da dor e a mente da ansiedade. Nem beber e dançar continuamente, nem o amor sexual, nem a fruição de peixe ou seja o que for que a mesa luxuosa oferece gera a vida agradável; ao invés, esta é produzida pela razão que é sóbria, que examina o motivo de toda a escolha e rejeição, e que afasta todas aquelas opiniões através das quais a mente fica dominada pelo maior tumulto.
De tudo isto o bem inicial e principal é a prudência. Por esta razão, a prudência é mais preciosa do que a própria filosofia. Todas as outras virtudes nascem dela. Ensina-nos que não é possível viver agradavelmente sem ao mesmo tempo viver prudentemente, nobremente e justamente, nem viver prudentemente, nobremente e justamente sem viver agradavelmente; pois as virtudes cresceram em união íntima com a vida agradável, e a vida agradável não pode ser separada das virtudes.
Quem pensas então que é superior ao homem prudente, que tem opiniões reverentes sobre os deuses, que não tem qualquer medo da morte, que descobriu qual é o maior bem da vida e que compreende que o mais alto bem é fácil de alcançar e manter e que o extremo do mal tem limites no tempo ou no sofrimento, e que se ri do que algumas pessoas inventaram como a regente de todas as coisas, a Necessidade? Ele pensa que o poder de decisão principal nos cabe a nós, apesar de algumas coisas surgirem por necessidade, algumas por acaso e algumas pelas nossas próprias vontades; pois ele vê que a necessidade é irresponsável e o acaso incerto, mas que as nossas acções não estão sujeitas a qualquer poder. É por esta razão que as nossas acções merecem louvor ou censura. Seria melhor aceitar o mito sobre os deuses do que ser um escravo do determinismo dos físicos; pois o mito sugere uma esperança de graça através das honras concedidas aos deuses, mas a necessidade do determinismo é inescapável. Visto que o homem prudente não encara, como muitos, o acaso como um deus (pois os deuses nada fazem de maneira desordenada) ou como uma causa instável de todas as coisas, acredita que o acaso não dá ao homem o bem e o mal para fazer a sua vida feliz ou miserável, mas que fornece oportunidades para grandes bens ou males. Finalmente, ele pensa que é melhor encontrar o infortúnio quando se age com razão do que calhar a ter boa fortuna ao agir insensatamente; pois é melhor não ocorrer o que foi bem planeado nas nossas acções do que ser bem-sucedido por acaso o que foi mal planeado.
Medita nestes preceitos e noutros como estes, de dia e de noite, sozinho ou com um amigo da mesma opinião. Então nunca terás receio, de dia ou de noite; mas viverás como um deus entre os homens; pois a vida no seio de bem-aventuranças imortais não é de modo algum como a vida de um mero mortal.
Epicuro
Tradução de Desidério Murcho

Nota do tradutor

Esta é uma tradução da tradução inglesa anónima disponível no site da Universidade da Colúmbia. Esta tradução supera claramente a tradução de Brad Inwood e L. P. Gerson (Hackett) e a mais antiga de Robert Drew Hicks, iluminando algumas partes do texto que até agora eram algo incongruentes.