sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O preconceituoso consciente.


Pensamento Binário vs. Visão Probabilística e o Papel das Heurísticas na Decisão

Introdução

No mundo complexo da ciência, filosofia e decisões cotidianas, ideias rígidas de “sim ou não” tendem a falhar. A realidade raramente se encaixa em categorias absolutas; em vez disso, manifesta graduações e incertezas. Por isso, cresce a necessidade de evitar afirmações binárias e adotar uma visão estatística ou probabilística nos mais diversos campos do conhecimento. Além disso, compreender o papel de pré-conceitos – entendidos aqui como heurísticas cognitivas ou julgamentos iniciais – mostra-se essencial. Este texto explora como o pensamento probabilístico supera visões determinísticas em exemplos históricos e científicos, e investiga como um “pré-conceito” pode, na medida certa, ser uma ferramenta útil para enfrentar situações novas ou complexas. Abordaremos perspectivas da psicologia, filosofia da ciência e estatística, mostrando a vantagem de enxergar o mundo em tons de cinza, e não apenas em preto e branco.

O Problema do Pensamento Binário

Nossa mente muitas vezes busca atalhos, rotulando tudo de forma dicotômica: bom ou ruim, verdadeiro ou falso, zero ou um. Essa tendência, conhecida como viés binário, faz dicotomizar qualquer conjunto de dados, reduzindo toda uma gama de possibilidades a apenas duas categorias extremas. Embora isso simplifique o processamento de informação, pode distorcer a realidade e levar a julgamentos apressados. Psicólogos notam que esse viés deriva em parte de nossa herança evolutiva: ancestrais humanos precisavam reagir rapidamente a ameaças, desenvolvendo respostas instantâneas de “luta ou fuga”. Esse mecanismo sobrevive hoje como um pensamento simplificador (e frequentemente pessimista) diante de informações complexas. O resultado é uma visão empobrecida da realidade – por exemplo, ao avaliar pessoas ou ideias, tendemos a classificá-las rigidamente como “totalmente boas” ou “totalmente más”, ignorando nuances.

(O viés binário: uma maneira errada de processar informações) Representação do pensamento binário: pessoa diante de uma escolha bifurcada. (Fonte: Amente é Maravilhosa)

A adoção inconsciente de afirmações binárias pode ser prejudicial. Na ciência, isso se manifesta quando teorias são consideradas 100% verdadeiras ou falsas, sem meio-termo, ou quando resultados experimentais são interpretados como prova definitiva em vez de evidências graduais. Na tomada de decisões, pensar de forma binária pode levar a escolhas extremas sem avaliar riscos intermediários (“este investimento com certeza dará certo” vs. “é um fracasso garantido”). Em contraposição, pensar estatisticamente significa reconhecer níveis de confiança, probabilidades e distribuições de resultados possíveis. Em vez de “sim ou não”, passamos a raciocinar em termos de quão provável algo é, ou sob quais condições uma coisa tende a ocorrer.

Por que Pensar em Probabilidades?

Diferentemente da certeza absoluta implícita no pensamento binário, o pensamento probabilístico abraça a incerteza como parte inerente da realidade. Isso não é apenas um capricho moderno – trata-se de uma mudança de paradigma ocorrida ao longo dos séculos. Historicamente, filósofos e cientistas perseguiram o “sonho da certeza” determinística: a ideia de que, conhecendo-se perfeitamente as causas iniciais, poderíamos prever todos os efeitos (o célebre demônio de Laplace representa essa visão de determinismo absoluto). Porém, descobertas científicas dos últimos 150 anos minaram essa confiança ilimitada. Hoje entendemos que pequenas variações podem gerar grandes impactos, tornando inviável prever com exatidão muitos fenômenos complexos. Assim, o antigo sonho de certeza deu lugar à teoria da probabilidade, um cálculo da incerteza (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative). Ao invés de eliminar o “caos”, aprendemos a trabalhar dentro dele, usando modelos estatísticos para navegar em sistemas imprevisíveis.

Em termos práticos, pensar em probabilidades oferece vários benefícios:

  • Previsões mais realistas: Modelos probabilísticos fornecem intervalos de confiança ou chances de cada resultado, em vez de uma única previsão rígida. Isso prepara melhor para surpresas. Por exemplo, em um lançamento de produto, é preferível estimar um intervalo provável de vendas ou múltiplos cenários, ao invés de cravar um número exato. Empresas que adotam cenários variados, considerando tendências de mercado e oscilações econômicas, ficam mais preparadas para reagir rapidamente às mudanças. Essa abordagem flexível fortalece a resiliência na tomada de decisão.
  • Decisões informadas pelo risco: Ao enxergar os possíveis resultados e suas probabilidades, gestores e cientistas podem calcular riscos e benefícios de forma mais objetiva. Em vez de dizer “este projeto vai falhar ou ter sucesso”, pode-se estimar, por exemplo, 70% de chance de sucesso, ajustando planos de acordo com a tolerância ao risco.
  • Adaptação contínua: Uma mentalidade estatística incentiva a atualização de crenças conforme novas evidências surgem. Isso evita o apego dogmático a uma posição “verdadeira/falsa” inicial. Conforme veremos adiante, essa dinâmica de atualização é central tanto na ciência (experimentos refinando hipóteses) quanto na estatística Bayesiana (evolução de probabilidades a partir de priors).

Em suma, abraçar a incerteza não significa abrir mão de conhecimento – pelo contrário, é reconhecê-lo de forma mais realista. Hans Rosling, no livro Factfulness, argumentou que a incerteza “não é algo a ser temido, mas compreendido” para nos alavancar adiante. A seguir, examinamos casos concretos onde abordagens probabilísticas triunfaram sobre visões determinísticas, transformando nossa compreensão e capacidade de decisão.

Exemplos Históricos e Científicos: Probabilístico vs. Determinístico

Física Quântica e Indeterminismo

No início do século XX, a física enfrentou um choque conceitual: partículas subatômicas não seguiam leis determinísticas como planetas em órbita, mas sim regras probabilísticas. A mecânica quântica revelou que é impossível determinar com certeza absoluta o resultado de certos fenômenos – por exemplo, o momento exato em que um átomo radioativo irá decair. Até mesmo Albert Einstein, acostumado ao determinismo da física clássica, mostrou-se desconfortável com essa ideia. Em 1926, ele escreveu em carta a Max Born a famosa frase: “Deus não joga dados com o Universo” (Cartas em que Einstein cita Deus e refuta teoria quântica vão à leilão - Revista Galileu | Sociedade), rejeitando a noção de aleatoriedade fundamental. Contudo, o desenvolvimento da teoria quântica provou ser correto em sua essência probabilística: por mais contraintuitivo que fosse, o comportamento das partículas só podia ser previsto em termos de probabilidades. Experimentos posteriores confirmaram previsões quânticas com alto grau de precisão estatística, enquanto as tentativas deterministas de Einstein não encontraram respaldo experimental. Esse episódio histórico mostra a vantagem de uma visão baseada em probabilidades: ela permitiu avanços como transistores e lasers (frutos da física quântica), impossíveis caso os físicos insistissem numa certeza determinista inexistente.

Teoria do Caos e o “Efeito Borboleta”

Mesmo sistemas regidos por leis aparentemente deterministas podem se comportar de maneira imprevisível. Em 1961, o meteorologista Edward Lorenz descobriu isso ao tentar simular o clima em um computador. Pequenas diferenças de arredondamento nos dados iniciais resultavam em previsões de tempo completamente divergentes – um fenômeno resumido em sua frase: “quando o presente determina o futuro, mas o presente aproximado não determina aproximadamente o futuro”. Em outras palavras, pequenas variações nas condições iniciais podem levar a grandes diferenças nos resultados. Esse princípio, popularizado como Efeito Borboleta, expôs os limites do determinismo clássico: mesmo conhecendo equações precisas, a mínima incerteza nas entradas impede previsões exatas a longo prazo. Como resposta, meteorologistas e outros cientistas adotaram abordagens probabilísticas. A previsão do tempo moderna, por exemplo, utiliza modelos de ensemble – múltiplas simulações com variações sutis nas condições iniciais – para gerar previsões de probabilidade (como “80% de chance de chuva”). Isso fornece ao público e aos tomadores de decisão uma ideia do grau de confiança na previsão, em vez de uma garantia binária enganosa. Novamente, a visão estatística mostra sua força: em vez de confiar num único palpite determinístico, trabalha-se com uma distribuição de cenários, melhorando a preparação diante de eventos extremos ou inesperados. Hoje, não apenas o clima, mas diversos campos (economia, ecologia, engenharia) incorporam o caos em seus modelos, usando a estatística para navegar a incerteza onde o determinismo falha.

Inovações Tecnológicas com Modelos Probabilísticos

No mundo contemporâneo, ciência de dados e inteligência artificial impulsionam ainda mais a mentalidade probabilística. Modelos de machine learning e simulações computacionais conseguem vasculhar um espaço vasto de possibilidades, algo impraticável por métodos deterministas manuais. Por exemplo, no setor de biotecnologia, startups como a Insilico Medicine utilizam IA para descoberta de fármacos, simulando milhões de possíveis moléculas em poucas semanas – algo impossível num modelo determinístico tradicional. Em vez de testar substância por substância em laboratório (processo linear e certo, porém lento), adota-se uma estratégia estatística: gerar muitas hipóteses de compostos e gradualmente afunilar nas mais promissoras com base em probabilidades de sucesso. O resultado é um ganho de velocidade e criatividade na pesquisa científica.

No setor financeiro, a detecção de fraudes também se beneficiou da abordagem probabilística. Grandes bancos como o JPMorgan implementam sistemas de IA que analisam bilhões de transações e, em tempo real, ajustam seus modelos de detecção conforme novos padrões de fraude emergem. Diferente de um sistema determinístico de regras fixas (que um fraudador inteligente poderia contornar após descobrir o padrão), um sistema probabilístico aprende com os dados – ou seja, atualiza continuamente as chances de uma transação ser fraudulenta conforme recebe evidências. Isso torna a detecção muito mais adaptável e eficaz frente a golpes inéditos.

Esses exemplos ilustram uma tendência clara: visões deterministas rígidas estão dando lugar a estratégias probabilísticas dinâmicas. Seja para prever mercados, descobrir medicamentos ou navegar incertezas científicas, quem incorpora a estatística ganha uma vantagem. Afinal, conforme resumiu Gigerenzer e colegas, vivemos o fim do ideal da certeza absoluta e a ascensão do cálculo de incertezas (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative). Lidar com os fenômenos em termos de probabilidades permite não apenas prever o futuro, mas moldá-lo de forma mais inteligente, pois ajustamos nosso caminho conforme aprendemos com os desvios.

Heurísticas Cognitivas: Atalhos Úteis (mas Imperfeitos)

Se por um lado devemos evitar o pensamento “preto no branco”, por outro não é viável analisar cada situação do zero, calculando todas as probabilidades minuciosamente. Nosso cérebro desenvolveu heurísticas, que são atalhos mentais ou “regras de bolso” usadas para tomar decisões rápidas sob pressão ou com informação incompleta (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative). Em psicologia, Daniel Kahneman e Amos Tversky pioneiramente catalogaram várias heurísticas (como disponibilidade, representatividade e ancoragem) mostrando como elas podem levar a vieses – erros sistemáticos de julgamento. Por exemplo, a heurística da ancoragem nos faz dar peso excessivo à nossa impressão ou número inicial e ajustar insuficientemente diante de novos dados. Já a heurística de disponibilidade nos leva a julgar a frequência ou probabilidade de algo com base na facilidade com que exemplos nos vêm à mente (às vezes superestimando eventos dramáticos que lembramos facilmente, como acidentes aéreos, e subestimando eventos mais comuns porém menos memoráveis). Essas descobertas renderam a Kahneman um Nobel e consolidaram a visão de que o ser humano muitas vezes não pensa estatisticamente de forma nativa, inclinando-se a esses atalhos que simplificam a complexidade.

No entanto, seria injusto concluir que heurísticas são “ruins” em si. Muito pelo contrário: sem elas seríamos “travados” diante da infinidade de decisões diárias. Gerd Gigerenzer, outro psicólogo influente, defende que heurísticas podem ser rápidas, frugais e eficazes, a ponto de muitas vezes produzirem resultados tão bons quanto (ou melhores que) análises deliberativas demoradas (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative). A chave é que o mundo real frequentemente envolve incerteza, não apenas risco calculável (Gerd Gigerenzer on Decision Making - Social Science Space). Nesses cenários, tentar um cálculo exato ou otimização perfeita é inviável – afinal, faltam informações ou tempo para isso. As heurísticas, então, são ferramentas adaptativas que ignoram parte dos dados para focar no essencial, atendendo às limitações de tempo e conhecimento.

Um exemplo impressionante de vantagem de heurística foi documentado na medicina de emergência: ao avaliar pacientes com suspeita de ataque cardíaco, médicos desenvolveram uma lista de checagem simples de 3 passos (Sim/Não) para decidir se o paciente é de alto risco. Esse protocolo heurístico superou análises complexas que consideravam 19 variáveis, em termos de rapidez e acurácia para identificar casos graves (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative). Em poucos segundos, três perguntas objetivas permitiam diagnosticar corretamente muitos pacientes, enquanto a abordagem “completa” demoraria mais e, na prática, não adicionou precisão significativa. Essa estratégia é um exemplo de “menos é mais”: usar poucas informações relevantes de forma inteligente venceu o excesso de dados. Daí a expressão de Gigerenzer: “Às vezes, menos informação é melhor” (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative).

Outra situação cotidiana de heurística útil é a intuição experiente. Um bombeiro veterano, por exemplo, pode “sentir” que um prédio está prestes a desabar ao notar sinais sutis (estalos, deformações) e ordena a retirada imediata da equipe – sem realizar cálculos estruturais formais, ele aplicou um pré-conceito aprendido em anos de experiência. Essa resposta rápida pode salvar vidas, enquanto uma análise lenta seria impraticável na emergência. Da mesma forma, motoristas tomam decisões instintivas no trânsito (frear diante de um pedestre que pode atravessar correndo) usando pistas visuais mínimas. Em ambos os casos, a heurística traz vantagem adaptativa: ganha-se velocidade com um pequeno custo de precisão (às vezes o prédio não cairia, ou o pedestre não atravessaria – mas errar por precaução é melhor do que esperar a certeza).

Em resumo, heurísticas e julgamentos iniciais são uma faca de dois gumes: podem introduzir vieses e erros, mas também representam a sabedoria acumulada da evolução e da experiência, proporcionando decisões viáveis em ambientes de incerteza. Como nota Gigerenzer, nas ciências sociais criou-se a retórica de que heurísticas seriam “segunda classe” e que o ideal seria sempre decisões racionais otimizadas – uma visão equivocada num mundo de incertezas (Gerd Gigerenzer on Decision Making - Social Science Space). O mais sensato é investigar quando e onde esses atalhos funcionam bem, em vez de descartá-los por não se adequarem ao ideal teórico de racionalidade ilimitada (Gerd Gigerenzer on Decision Making - Social Science Space). Afinal, comparar o pensamento humano real a um “demônio de Laplace” onisciente só nos faria parecer irracionais, quando na verdade estamos usando estratégias proporcionais ao ambiente e aos nossos limites (Gigerenzer - Fast and Frugal Heuristics - The Broken Science Initiative).

(Heurísticas: os interessantes atalhos da nossa mente) Representação das heurísticas cognitivas: a imagem sugere uma mente humana ramificando-se em diversas direções, simbolizando os atalhos mentais que simplificam decisões. (Fonte: Amente é Maravilhosa) (Heurísticas: os interessantes atalhos da nossa mente)

“Pré-conceito” como Ferramenta Cognitiva

Geralmente, a palavra pré-conceito carrega uma conotação negativa de juízo precipitado ou preconceito injusto. Contudo, aqui discutimos o “pré-conceito” no sentido literal: conceitos prévios ou suposições iniciais que cada indivíduo ou cientista traz para uma situação. Na filosofia e na epistemologia (teoria do conhecimento), há muito se debate sobre o papel dessas suposições iniciais na compreensão do mundo. Será que é possível observar ou decidir algo sem nenhum pré-conceito? Ou, ao contrário, toda observação e decisão já começa com alguma ideia prévia, que pode ser útil?

Filósofos da ciência argumentam que não existe ponto de vista totalmente neutro. Nosso cérebro e nossa cultura sempre nos fornecem estruturas antecipadas para interpretar os dados – caso contrário, ficaríamos paralisados diante de um fluxo caótico de informações sem sentido. O filósofo Hans-Georg Gadamer, em sua obra sobre hermenêutica (arte da interpretação), defendeu que os “prejuízos” (pre-juízos, isto é, pré-concepções) fazem parte de qualquer ato de compreensão. Longe de serem apenas obstáculos, eles formam a base a partir da qual entendemos algo novo (Preconceito | Ecce Medicus). Gadamer aponta que “a interpretação começa com pré-conceitos que são, pouco a pouco, substituídos por conceitos mais adequados” (Preconceito | Ecce Medicus). Em outras palavras, ao nos depararmos com um texto, uma situação ou um problema, iniciamos com alguma hipótese ou impressão inicial; conforme interagimos com a realidade, vamos testando e refinando esses pré-conceitos, ajustando nosso entendimento. A objetividade, nesse sentido, não é a ausência de suposições, mas sim o processo de depurá-las – confirmando as válidas e descartando as enganosas conforme reunimos evidências (Preconceito | Ecce Medicus).

No contexto da filosofia da ciência, essa ideia se reflete em como cientistas propõem teorias. Karl Popper, por exemplo, via o progresso científico como “conjecturas e refutações”: primeiro faz-se uma conjectura ousada (um palpite ou hipótese – essencialmente um pré-conceito sobre como algo pode funcionar), depois testa-se criticamente para tentar refutá-la. Se a hipótese sobrevive a testes rigorosos, ganha credibilidade; se não, é ajustada ou abandonada. Já Thomas Kuhn destacou que em períodos de “ciência normal”, pesquisadores trabalham dentro de um paradigma existente, um conjunto de pressupostos compartilhados sobre o fenômeno (A noção de paradigma pensada por Thomas Kuhn - Brasil Escola ). Esse paradigma orienta quais perguntas fazem sentido e quais métodos são válidos – é, de certo modo, um grande pré-conceito coletivo que guia a pesquisa. Somente diante de anomalias persistentes é que o paradigma é questionado e eventualmente ocorre uma revolução científica, com um novo paradigma tomando lugar (A noção de paradigma pensada por Thomas Kuhn - Brasil Escola ). Ou seja, mesmo a ciência, com toda sua objetividade, depende de conceitos prévios (paradigmas, teorias provisórias) para avançar; ela não começa do zero, mas sim reformula suas “apostas” iniciais conforme as evidências aparecem.

Também na estatística moderna, especialmente na abordagem Bayesiana, encontramos a valorização do conhecimento prévio. O Teorema de Bayes formaliza matematicamente como devemos combinar uma crença inicial (prior) com evidências novas para obter uma crença atualizada (posterior). Em termos simples, “uma nova evidência apenas atualiza uma probabilidade anterior, e a nova probabilidade depende não apenas da evidência encontrada, mas também da probabilidade anterior à evidência” (Teorema de Bayes: A matematização da crença – Eu Percebo). Assim, nossas conclusões após ver os dados dependem em parte de quão crentes estávamos na hipótese antes de ver os dados (Teorema de Bayes: A matematização da crença – Eu Percebo). Longe de ser um “defeito”, isso é inevitável e muitas vezes desejável: utilizar informações prévias conhecidas (por exemplo, estudos anteriores, conhecimentos teóricos) torna a análise mais poderosa do que tratá-la isoladamente. Por exemplo, suponha que 1% de uma população tem uma certa doença, e um teste positivo tem 90% de sensibilidade e 10% de falso-positivo. Um médico que recebe um resultado positivo não deve concluir binariamente que o paciente com certeza está doente; usando o Teorema de Bayes e o dado prévio da prevalência de 1%, ele concluirá que a probabilidade pós-teste é relativamente baixa (por volta de 8% a 9%). Esse cálculo incorpora o “pré-conceito” (prevalência base) de forma quantitativa, chegando a um julgamento muito mais acurado do que uma interpretação literal do exame.

Interessantemente, um artigo de medicina baseado em evidências sugere que “um pouquinho de preconceito é bom para o médico”, no sentido de combinar prudentemente sua visão de mundo com a do paciente e com a massa de conhecimento científico disponível (Preconceito | Ecce Medicus). O autor refere-se justamente ao preconceito filosófico discutido por Gadamer e ao método de Bayes, chamando-os de “mestres do preconceito” por ensinarem o valor de ter suposições informadas (Preconceito | Ecce Medicus). Em outras palavras, o médico não é uma tábula rasa: ele vem com experiência, intuição clínica (heurísticas do que costuma ser comum ou grave) e até mesmo impressões iniciais sobre o caso, e isso o ajuda a formular hipóteses diagnósticas rapidamente. A seguir, ele deve testar esses palpites com exames e observações, corrigindo-os se necessário. Assim, o “pré-conceito” funciona como uma heurística inicial para lidar com a complexidade do paciente real, mas precisa ser flexível – estando sempre aberto à revisão conforme novos dados surgem (resultados de exames, evolução dos sintomas, etc.). Essa postura é muito diferente de um preconceito inflexível, que seria o médico se recusar a mudar de ideia apesar das evidências em contrário. O pré-conceito útil é, pois, maleável e orientado pela evidência.

Conclusão

Em um mundo repleto de incertezas, evitar extremos binários e adotar uma postura probabilística mostrou-se fundamental para o avanço do conhecimento e para decisões mais sábias. Vimos que teorias científicas rígidas cederam lugar a modelos baseados em probabilidades – do comportamento misterioso das partículas quânticas à imprevisibilidade atmosférica, passando por inovações tecnológicas que simulam cenários diversos para encontrar soluções. Abordagens probabilísticas abraçam a complexidade em vez de negá-la, proporcionando previsões com margens de erro e planos de contingência, em lugar de promessas de exatidão irrealistas.

Ao mesmo tempo, reconhecemos que nossos cérebros operam com heurísticas e pré-concepções inevitáveis. Longe de serem meros vícios, esses atalhos cognitivos são muitas vezes o que nos permite navegar situações novas ou complexas sem ficarmos paralisados. A chave está em utilizá-los com consciência: valorizar o julgamento inicial como ponto de partida, mas refiná-lo com pensamento crítico e evidências. Na psicologia e na tomada de decisão, isso significa mitigar vieses perigosos (como o pensamento totalmente dicotômico) e aproveitar heurísticas benéficas nos contextos adequados. Na filosofia da ciência, significa admitir que toda observação carrega teoria embutida, e que o conhecimento progride ao depurar nossos pré-conceitos à luz dos fatos. Na estatística, significa combinar dados novos com informações prévias de forma coerente (seguindo a máxima de Bayes).

Em suma, a visão estatística ou probabilística não descarta a intuição ou a experiência anterior – ela as incorpora de maneira estruturada. Ao evitarmos afirmações absolutas e reconhecermos graus de confiança, tomamos decisões mais robustas e produzimos ciência de melhor qualidade. E ao entendermos o pré-conceito como uma ferramenta cognitiva (e não um fim em si mesmo), podemos aproveitar a sabedoria inicial que ele oferece, sem nos tornarmos escravos de ideias fixas. O equilíbrio entre uma mente aberta a novas evidências e um núcleo de conhecimento prévio bem fundamentado é, afinal, o que permite lidar com o novo e o complexo de forma efetiva. Ou, parafraseando um ensinamento popular da estatística: estejamos firmes em nossas suposições, porém sempre prontos para atualizá-las quando os dados assim exigirem.

Referências:

  • Kahneman, D. Thinking, Fast and Slow. Farrar, Straus and Giroux, 2011.
  • Gigerenzer, G. Gut Feelings: The Intelligence of the Unconscious. Viking, 2007.
  • Lorenz, E. Predictability: Does the Flap of a Butterfly’s Wings in Brazil Set Off a Tornado in Texas? (Paper, 1972).
  • Rosling, H. Factfulness. Flatiron Books, 2018.
  • Upshur, R.E.G. “Clinical epistemology” – The Pharos (Citado em 【31】).
  • [Referências específicas conforme citações ao longo do texto]

Tendência de considerar a ciência atual como definitiva


Tendência de considerar a ciência atual como definitiva

É comum na prática científica tratar as teorias e resultados mais recentes como os mais corretos ou definitivos, mesmo sabendo-se que a história da ciência é marcada por revisões constantes e mudanças de paradigmas. Diversos termos e conceitos da filosofia da ciência descrevem esse fenômeno de confiança excessiva na ciência vigente. A seguir, apresentamos alguns deles – como cientificismo, dogmatismo científico e o viés do “presente” –, explicando seu significado e relevância, com exemplos históricos e referências acadêmicas.

Cientificismo (Scientism)

Cientificismo – ou cientismo – refere-se a uma postura intelectual que confere autoridade absoluta à ciência e ao método científico como caminho único ou superior para a verdade. Trata-se de uma visão frequentemente dogmática: assume-se que o conhecimento científico atual tem primazia sobre outras formas de saber (como a filosofia ou a religião) e que suas conclusões são praticamente inquestionáveis (Cientificismo – Wikipédia, a enciclopédia livre) (Cientificismo – Wikipédia, a enciclopédia livre). Em outras palavras, o cientificismo acredita no poder da ciência de resolver todos os problemas e tende a encarar as descobertas científicas presentes como verdades finais.

“Segundo Karl Popper, o cientificismo é a crença dogmática na autoridade do método científico e nos seus resultados” (Cientificismo – Wikipédia, a enciclopédia livre).

Essa atitude pode levar a superestimar a exatidão das teorias científicas vigentes, ignorando-se que a ciência é provisória e autocorretiva. Filósofos como Susan Haack e Ian Hacking criticam o cientificismo por ele ignorar limites metodológicos e por tratar a ciência quase como uma religião secular. Em suma, o cientificismo descreve a tendência de enxergar a ciência contemporânea como detentora da verdade absoluta, deixando de lado a necessária postura crítica e falibilista (isto é, consciente de que mesmo teorias atuais podem estar erradas).

Dogmatismo científico

Por dogmatismo científico entende-se a atitude inflexível e pouco crítica diante do conhecimento científico estabelecido. Nessa postura, os cientistas (ou a comunidade em geral) aderem firmemente às teorias e paradigmas vigentes, tratando-os como se fossem verdades incontestáveis – em vez de hipóteses sujeitas a teste e possível refutação. O filósofo Thomas Kuhn observou que durante os períodos de ciência normal (ou seja, fora de momentos de revolução científica) os pesquisadores tendem a trabalhar dentro de um paradigma aceito sem questionar seus fundamentos. Kuhn chegou a chamar essa necessária estabilidade de um tipo de “dogmatismo científico” útil: os cientistas precisam de confiança no paradigma atual para resolver “quebra-cabeças” normais da pesquisa (Parcial epistemologia - NEOPOSITIVISMO: CIRCULO DE VIENA Y EL EMPIRISMO LÓGICO Hace unos treinta - Studocu). Como ele disse, “algo deve dizer ao cientista onde olhar e o que buscar, e esse algo, ainda que não perdure além de sua geração, é o paradigma que lhe proporcionou sua educação... Dado esse paradigma e a necessária confiança nele, o cientista deixa em grande medida de ser um explorador... Em vez disso, trata de articular e concretizar o conhecido” (Parcial epistemologia - NEOPOSITIVISMO: CIRCULO DE VIENA Y EL EMPIRISMO LÓGICO Hace unos treinta - Studocu).

Contudo, esse mesmo apego dogmático pode ser visto como nocivo quando impede a consideração de novas evidências ou teorias. Karl Popper, em contraposição a Kuhn, alertou que a suspensão prolongada da dúvida crítica é “um perigo para a ciência” (Dogmatism, Learning and Scientific Pratices). Para Popper e filósofos críticos, o dogmatismo científico leva os pesquisadores a ignorar anomalias ou hipóteses alternativas, retardando o progresso. Paul Feyerabend também criticou o dogmatismo da ciência institucional, defendendo um “anything goes” (vale-tudo) metodológico para evitar que regras rígidas engessem a criatividade científica. Em síntese, dogmatismo científico descreve a tendência de tratar o conhecimento atual como dogma – aceito pela autoridade da “ciência estabelecida” – em vez de mantê-lo aberto a revisão. Essa tendência faz com que frequentemente se considere a teoria mais recente como a correta simplesmente por ser a adotada no momento, até que uma eventual revolução científica a suplante.

Viés do presente (cronocentrismo e “falácia do presente”)

Outra forma de entender essa confiança nas afirmações mais recentes é através do viés do presente – a suposição de que o presente é superior ao passado em conhecimento e visão de mundo. O termo cronocentrismo descreve exatamente essa crença de que “apenas o presente conta e que o passado é irrelevante”, pressupondo que nossa época atingiu o auge da compreensão (Cronocentrismo – Wikipédia, a enciclopédia livre). Em outras palavras, julga-se que a ciência atual é naturalmente mais correta por ser a mais moderna, menosprezando as visões anteriores (às vezes chamadas de primitivas ou “superadas”). Esse viés pode levar à “falácia do presente”, isto é, ao erro de raciocínio de assumir que nossas explicações atuais são verdadeiras apenas porque estamos no tempo presente e “mais avançado”. O sociólogo Jib Fowles definiu cronocentrismo como “o egoísmo de supor que a própria geração está posicionada no auge da história” (Cronocentrismo – Wikipédia, a enciclopédia livre) – um sentimento que certamente se manifesta quando cientistas (ou o público) descartam saberes passados por considerá-los obsoletos, sem reconhecer que no futuro o mesmo pode ocorrer com as teorias de hoje.

Esse fenômeno relaciona-se também com a falácia do apelo à novidade (argumentum ad novitatem). O apelo à novidade é um tipo de falácia lógica em que se assume que uma ideia é correta ou melhor simplesmente porque é nova, enquanto ideias antigas são presumidas falsas ou inferiores apenas por serem antigas (Argumentum ad novitatem – Wikipédia, a enciclopédia livre). Por exemplo, se alguém argumenta que “a única forma correta de fazer X é usando a técnica mais recente”, está incorrendo em apelo à novidade sem analisar evidências. Nos meios científicos, esse viés aparece quando valorizamos descobertas frescas e menosprezamos resultados antigos pelo simples critério da atualidade (Argumentum ad novitatem – Wikipédia, a enciclopédia livre). Claramente, muitas vezes as teorias novas são de fato melhores que as antigas, mas a falácia está em presumir isso automaticamente. Assim, cronocentrismo e apelo à novidade descrevem o impulso de considerar as afirmações científicas mais recentes como as mais corretas pelo fato de serem recentes, esquecendo que novidade não garante veracidade.

Falibilismo e meta-indução pessimista

Em contraste com essas visões que absolutizam o presente, filósofos da ciência propõem o falibilismo – a ideia de que todo conhecimento é provisório e pode ser corrigido. Um importante argumento filosófico que explora o histórico de revisões científicas é a chamada meta-indução pessimista (ou indução pessimista). Esse argumento, associado a autores como Larry Laudan e Hilary Putnam, observa que, historicamente, mesmo teorias de grande sucesso acabaram sendo consideradas falsas ou incompletas. Com base nisso, faz-se uma indução: generalizando a partir das constantes revisões do passado, conclui-se que as teorias hoje aceitas também podem vir a ser consideradas falsas no futuro (). Em outras palavras, se ao longo da história A, B, C… (várias teorias) foram tidas como verdadeiras e depois descartadas, não há motivo para crer que a situação atual seja especial ou imune a erro ( Realism and Theory Change in Science (Stanford Encyclopedia of Philosophy) ). Como colocou Newton-Smith, “o que há de tão especial no presente?” ( Realism and Theory Change in Science (Stanford Encyclopedia of Philosophy) ) – isto é, não devemos presumir que justamente nossas teorias atuais serão as únicas absolutamente corretas.

A indução pessimista apoia-se em uma base empírica histórica: “se observarmos a evolução das teorias científicas em qualquer disciplina, é comum testemunhar a substituição regular das teorias mais antigas por aquelas mais recentes à medida que o conhecimento avança. Do ponto de vista atual, as teorias antigas são frequentemente consideradas falsas... generalizando a partir desses casos, é razoável concluir que as teorias em vigor em qualquer dado momento serão, eventualmente, substituídas e consideradas falsas... Portanto, as teorias atuais são falsas” (). Embora “falsas” aqui soe forte, a ideia é que mesmo as melhores teorias de hoje provavelmente não são a descrição definitiva da realidade, mas sim aproximações que poderão ser refinadas ou substituídas amanhã (exemplo: a física de Newton funcionava bem e foi considerada verdadeira por 200 anos, até ser englobada e corrigida pela relatividade de Einstein ( Realism and Theory Change in Science (Stanford Encyclopedia of Philosophy) )).

O reconhecimento da falibilidade do conhecimento científico é central na filosofia da ciência contemporânea. Ele nos previne contra a tentação de achar que “desta vez chegamos à verdade final”. Laudan (1981), por exemplo, apresentou uma lista influente de teorias outrora bem-sucedidas que hoje julgamos completamente equivocadas (). Entre elas: a teoria do flogisto na química do século XVIII (substituída pela teoria do oxigênio de Lavoisier), a teoria do calórico (fluido do calor) anterior à termodinâmica, o modelo do éter luminífero na física do século XIX (refutado pela teoria da relatividade e pelo eletromagnetismo de Maxwell), além de esferas cristalinas, “átomos de Bohr” originais, etc. A literatura filosófica está repleta de referências à história da ciência como um “cemitério de teorias” outrora aceitas (). Como resume Harrison (2015): “A história da ciência é um cemitério de teorias que ‘funcionaram’ mas foram substituídas” (). Esse panorama histórico embasa a visão de que nenhuma teoria científica deve ser tratada como inquestionavelmente verdadeira – um antídoto tanto ao dogmatismo quanto ao presentismo científico.

Exemplos históricos ilustrativos

Vários exemplos históricos evidenciam essa tendência da ciência de rever suas verdades e o perigo de presumir a correção absoluta das teorias correntes:

  • Astronomia (Geocentrismo → Heliocentrismo) – Por mais de um milênio, o modelo geocêntrico de Ptolomeu (Terra no centro) foi considerado correto. No século XVI, Copérnico propôs o heliocentrismo, desencadeando a Revolução Copernicana (Copernican Revolution | History, Science, & Impact | Britannica). A princípio, a comunidade resistiu (afinal, o geocentrismo era a “ciência estabelecida” medieval), mas gradualmente os dados de Galileu e Kepler provaram que a visão anterior estava equivocada. Esse caso mostra como uma ideia nova e verdadeira pode enfrentar a descrença inicial de quem aposta que o conhecimento vigente já estava certo.

  • Química (Flogisto → Oxigênio) – No século XVIII, os cientistas explicavam a combustão e a oxidação pela presença do flogisto, um princípio invisível liberado pelos materiais ao queimar. Essa teoria era amplamente aceita até que Antoine Lavoisier demonstrou a importância do oxigênio nas reações químicas (1780s), provando que não havia flogisto algum. Durante décadas, porém, o flogisto foi tratado como verdade científica; sua queda ilustra a revisão radical de conceitos básicos. Hoje sabemos que essa substância não existe ().

  • Física (Éter luminífero → Relatividade) – No final do século XIX, assumia-se que deveria existir um meio invisível – o éter – preenchendo o espaço para permitir a propagação da luz (analogia com ondas sonoras exigindo ar). Experimentos como o de Michelson-Morley (1887) não encontraram evidência do éter, mas a ideia persistiu até Einstein, em 1905, postular que a luz não precisava de meio (teoria da relatividade restrita). A comunidade científica custou a abandonar o éter, com alguns físicos apegados à “verdade” vigente; contudo, hoje o éter é considerado uma hipótese falsa (). Novamente, o conhecimento tido como certo revelou-se transitório.

  • Geologia (Fixismo continental → Deriva continental) – No início do século XX, acreditava-se que os continentes estiveram sempre fixos em suas posições atuais. Quando Alfred Wegener propôs em 1912 a deriva continental (antecessora da teoria das placas tectônicas), foi ridicularizado por grande parte da comunidade geológica. A ideia só foi aceita nos anos 1960, com evidências paleomagnéticas e oceânicas robustas. Até lá, o dogma científico era que continentes não se moviam – uma confiança no paradigma que se mostrou equivocada, exigindo uma mudança de visão. Este caso histórico demonstra como mesmo cientistas podem resistir a novas teorias corretas por acreditar firmemente no conhecimento atual.

Além desses, há muitos outros exemplos (da medicina, da biologia, etc.) que reforçam a necessidade de humildade epistêmica. A história mostra que o conhecimento científico evolui e que cada geração tende a considerar seu entendimento como o mais acertado – mas as gerações seguintes frequentemente identificam erros ou limitações nesse entendimento.

Conclusão

Em resumo, a tendência de enxergar as afirmações científicas mais recentes como as mais corretas pode ser analisada por vários conceitos filosóficos. O cientificismo e o dogmatismo científico alertam para os perigos de atribuir autoridade quase infalível à ciência atual, enquanto a falácia do presente (ou viés cronocêntrico) descreve o preconceito de valorizar excessivamente o agora em detrimento do passado. Por sua vez, argumentos como a meta-indução pessimista nos lembram, com base em exemplos históricos, que nenhuma teoria presente deve ser tratada como verdade definitiva, pois a ciência está em contínuo aperfeiçoamento. Exemplos históricos – da revolução copernicana à queda do flogisto, do éter e de tantas outras “certezas” científicas – oferecem uma lição de cautela: a ciência avança corrigindo a si mesma. Adotar uma perspectiva filosófica falibilista e historicamente informada ajuda a evitar tanto o triunfalismo ingênuo (“agora sabemos tudo”) quanto o ceticismo absoluto, equilibrando confiança no método científico com reconhecimento de suas revisões e limites.

Referências selecionadas:

  • Karl Popper (1959). The Logic of Scientific Discovery. [Discussão do caráter provisório da ciência e crítica ao dogmatismo].
  • Thomas Kuhn (1962). The Structure of Scientific Revolutions. [Introduz os conceitos de paradigma, ciência normal e revoluções científicas] (Parcial epistemologia - NEOPOSITIVISMO: CIRCULO DE VIENA Y EL EMPIRISMO LÓGICO Hace unos treinta - Studocu).
  • Larry Laudan (1981). “A Confutation of Convergent Realism”. Philosophy of Science, 48(1), 19–49. [Apresenta a meta-indução pessimista com exemplos históricos de teorias abandonadas] () ().
  • Jib Fowles (1974). “Chronocentrism”. Futures, 6(2), 142–151. [Discute o viés de considerar o presente superior ao passado] (Cronocentrismo – Wikipédia, a enciclopédia livre).
  • Sorensen, Roy (2013). A Cabinet of Philosophical Curiosities. [Menciona o “cemitério” de explicações baseadas em flogisto e éter] ().
  • Harrison, Peter (2015). The Territories of Science and Religion. [Refere-se à história da ciência como um cemitério de teorias que funcionaram mas foram substituídas] ().

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

 Cidadania e a Posição Social das Mulheres Atenienses na Idade Clássica: Uma Perspectiva para Superar a Antítese entre Homens e Mulheres

Por Jayoung Che


Resumo
As opiniões sobre a posição das mulheres na Atenas Clássica variam amplamente. A visão ortodoxa, derivada do final do século XIX e início do século XX, afirma que as esposas cidadãs gregas eram geralmente desprezadas e mantidas em reclusão. No entanto, a partir da primeira metade do século XX, surgiram desafios a essa visão, argumentando que as mulheres eram respeitadas e desfrutavam de maior liberdade do que se acreditava. S.B. Pomeroy advertiu contra tratar as mulheres como um grupo homogêneo, sugerindo a aplicação de diferentes padrões para cidadãs, estrangeiras residentes (metoikoi) e escravas.

Neste artigo, defende-se que a cidadania não era uniforme em todas as épocas e lugares, nem mesmo dentro de uma única sociedade. Havia múltiplos critérios para a cidadania, como direitos políticos relacionados ao governo e direitos sociais e econômicos no âmbito da família e das estruturas sociais associadas (demos, fília, etc.). Mesmo sem participar do governo, as mulheres eram chamadas cidadãs (aste ou politis), pois possuíam direitos sociais e econômicos significativos. Dada a natureza descentralizada das funções políticas na sociedade grega antiga, a política da pólis tinha menos relevância em comparação aos estados modernos.


Introdução
Houve uma disseminação de mal-entendidos sobre as relações entre homens, mulheres e escravos na pólis grega. Frequentemente, afirma-se que apenas homens participavam da vida cívica, enquanto mulheres eram consideradas semelhantes a escravas. No entanto, textos contemporâneos mostram que as mulheres também eram chamadas de cidadãs, como demonstrado pelas nomenclaturas astos/aste e polites/politis.

Apesar de homens terem direitos políticos exclusivos, como votar e servir no exército, cidadania era um conceito mais amplo, incluindo direitos sociais e econômicos. As estruturas tradicionais da sociedade (família, clã, tribo, etc.) frequentemente desempenhavam um papel mais significativo do que as atividades políticas. Assim, as mulheres cidadãs desfrutavam de direitos sociais e econômicos, ainda que suas atividades fossem limitadas em comparação às dos homens.


A Versatilidade do Conceito de Cidadania e Mulheres
Aristóteles mencionou que as qualificações para cidadania variavam conforme o contexto. Em Atenas, por exemplo, leis mais rígidas surgiram em períodos de superpopulação, limitando a cidadania àqueles nascidos de pais atenienses. No entanto, em tempos de necessidade, estrangeiros residentes e seus descendentes podiam receber cidadania.

Para as mulheres, a cidadania não se traduzia em participação política direta, mas em direitos econômicos e sociais associados à família e às estruturas tradicionais da pólis. Esses direitos podem ser descritos como "incompletos" sob a ótica moderna, mas refletiam a realidade de uma sociedade que priorizava a interdependência das suas subestruturas.


A Tensão entre Militarismo e Pacifismo
A posição social das mulheres também variava com o contexto social e político. Durante períodos de hegemonia militar, como nas Guerras do Peloponeso, o papel das mulheres foi suprimido em favor da política e da guerra dominadas pelos homens. No entanto, a literatura mostra exemplos de resistência feminina. Na comédia Lysistrata de Aristófanes, as mulheres são retratadas como defensoras da paz, contrastando com os homens militaristas.

Essa dinâmica reflete a tensão constante entre militarismo e pacifismo, que influenciava tanto a posição das mulheres quanto a estrutura social em geral.


Conclusão
As discussões sobre a posição social das mulheres em Atenas Clássica são complexas e frequentemente polarizadas. Concordo com Pomeroy que as mulheres não devem ser tratadas como um grupo homogêneo. Além disso, sugiro que diferenças dentro da própria cidadania masculina e feminina também devem ser consideradas.

A cidadania, tanto para homens quanto para mulheres, estava profundamente enraizada nas subestruturas sociais e econômicas da pólis. Embora a participação política fosse restrita aos homens, as mulheres desempenhavam papéis significativos dentro das estruturas tradicionais, contribuindo para o funcionamento e a continuidade da sociedade ateniense.

Assim, o estudo da posição das mulheres atenienses na Idade Clássica requer uma compreensão multifacetada, que leve em conta as variações sociais, temporais e políticas.


Se precisar de mais ajustes, é só avisar!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVARA "DEMOS" PARA A DEMOCRACIA DE ATENAS.


Donlan (1980, p.225-36) observa que dêmos denominaria tanto a terra pertencente a comunidade como o povo que nela habita. Seria a vila no seu sentido humano e geográfico. Por vezes, dêmos seria mesmo empregado sem que fosse possível discernir, pelo contexto, em qual dos dois sentidos ele esteja sendo empregado. Segundo ele, essa confusão demonstraria uma estreita conexão entre os dois conceitos: a terra e o povo que nela habita seriam um. 

Para Scheid-Tissienier (2002, p.10) o termo dêmos, por sua vez, designaria uma coletividade territorial e a comunidade ao qual todos os homens pertenceriam (Ibid., p.18).

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-05072007-102301/publico/TESE_ALFREDO_JULIEN.pdf

domingo, 25 de abril de 2021

Guilherme Tell e a Nação dos Templários

Os Templários fundadores da suíça

Qual foi a real origem do império bancário suíço?

99% TRADUZIDO PELO GOOGLE

MAIS INFORMAÇOES: https://hotm.art/C6V4fO

Legenda: Um mosaico no Museu Nacional Suíço, em Zurique comemora
William Tell

OS TEMPLÁRIOS REALMENTE FORAM EXTINTOS?

    A história da Suíça é, na melhor das hipóteses, evasiva. É assim aparentemente de propósito, com suas origens obscuras. Sua origem como confederação, dizem-nos, originou-se de um homem chamado William Tell que forneceu a faísca para a independência. No entanto, a maioria dos estudiosos dizem que sua história é um mito. Os suíços têm sua própria versão de uma Declaração de Independência. Dizia-se que estava perdida, mas estava era escondida por séculos. Há uma razão pela qual a história das origens da Suíça como país foi mantida em segredo. Tem tudo a ver com a ressurreição dos Cavaleiros Templários.

    Em 18 de maio de 1291, a fortaleza no Acre que era o último reduto dos templários nas Terras Sagradas foi perdido para Al-ashraf Khalil. Com isto toda a razão para a existência dos Templários foi perdida nesta última batalha. Agora, em vez de uma força de combate defendendo as Terras Sagradas do controle islâmico, os Cavaleiros Templários eram apenas uma organização numerosa. Como diz o proverbio “estava escrito na parede” (preludio de problemas).

    Sem missão sagrada, os templários eram agora simplesmente uma corporação livre de impostos e não respondendo a ninguém. Eles passaram a sofrer a ira de todos com quem lidaram. Muitos portos, opondo-se ao monopólio das frotas templários, recusaram seus navios. Seu vasto sistema bancário, que se estendia de Londres a Jerusalém, segurava as joias da realeza e as notas promissórias dos reis. Tendo introduzido o conceito de banco de filiais, esta instituição foi o primeiro banco internacional do mundo. A ordem, beneficiária de tantas terras de tantos doadores, não pagava impostos sobre a propriedade. Suas "vantagens e isenções" irritavam seus vizinhos que pagavam impostos sobre suas próprias propriedades. Assim, tinha uma vantagem competitiva em qualquer negócio que adentrasse. Mas, o maior erro que os templários cometeram, no entanto, foi recusar o rei francês como membro e acreditar que o tinham sob seu domínio. O Rei Phillip devia à ordem uma grande quantia de dinheiro, e sua incapacidade de tributar propriedades templárias o forçou a aumentar os impostos sobre a população. Ele muitas vezes teve que fugir de seu próprio povo e pelo menos uma vez a multidão o perseguiu até o Templo de Paris. Os templários, no entanto, não eram seus amigos. O rei decidiu que se não podia juntar-se a eles, iria vencê-los. E convenceu o Papa a declará-los hereges.

Tendo sido declarados inimigos do Papa e do Rei Filipe IV, os templários tinham o exército francês para enfrentar, mas mesmo assim eles tinham muito a ver com eles. Como a maior operação de inteligência do mundo, eles foram avisados que o rei francês planejava prender os templários e roubar sua riqueza. Eles também tinham uma estratégia de saída. Isso se tornou óbvio anos depois, quando o tesouro templário foi carregado em sua frota antes de navegar de La Rochelle para a Escócia, e quando suas unidades de cavalaria simplesmente se mudaram para Espanha e Portugal, onde foram reestruturadas como "novas" ordens, incluindo os Cavaleiros de Santiago e os Cavaleiros de Cristo,ainda hasteando a mesma bandeira templária. Colombo se casou com uma família de Cavaleiros de Cristo e continuou a hastear a bandeira templário quase 200 anos após sua morte percebida. Ao todo, 80% dos templários evitaram a prisão quando o Rei Phillip foi ao ataque.

Mesmo antes disso, porém, a estratégia de saída dos templários exigia um país independente de sua própria criação. Em 1º de agosto de 1291, dez semanas após a quedado Acre, três pequenas regiões da futura Suíça assinaram um pacto de unificação. Estes eram os cantões de Uri, Schwyz e Unterwalden. Seria Schwyz que mais tarde daria seu nome ao país da Suíça.

A bandeira do cantão suíço de Schwyz que deu seu nome ao país é basicamente uma inversão da bandeira templária. É uma cruz branca em um campo vermelho. Esta foi uma cruz menor do que a cruz templário, mas quando o país se uniu, tornou-se uma grande cruz branca em um campo vermelho. Muito mais tarde, bandeiras de batalha teriam um campo vermelho com uma cruz branca. Dentro da cruz branca havia uma espada. Outros símbolos e emblemas, como chaves e cordeiros, foram usados pelos templários e são incorporados às bandeiras da Suíça.

Antes de 1291, o futuro país não era de todo unificado. A Suíça não tinha religião compartilhada, nenhuma língua compartilhada, ou mesmo uma dinastia comum. Nos tempos romanos eles eram considerados parte do Império Romano e um pouco cristãos, mas hordas germânicas do norte traziam religião pagã e língua germânica.

À medida que Roma implodiu, o território que se tornaria a Suíça estava sob um punhado de pequenas dinastias familiares isoladas. Por volta de 1300, ninguém esperava que as pequenas cidades e vales finamente assentados se unissem ou formassem cantões ou estados. O Sacro Império Romano-Germânico decidiu que estas eram suas propriedades, e passou a cobrar impostos. Historiadores modernos concordam que não havia tal coisa como suíço, ou Suíça, antes de 1400.


Nascimento da Nação Templário

Isso mudou em 1291, quando um documento conhecido como Bundesbrief uniu Uri Schwyz e Unterwalden. Representantes se reuniriam em um prado de montanha no Lago Lucerna. Os cantões da floresta, como eram conhecidos, assinariam um pacto de assistência mútua. Os contos folclóricos registram os cavaleiros de cruz vermelha que prometeram assistência à Confederação Suíça, como seria conhecido. O documento em si era como a Declaração de Independência americana, e embora se esperasse que tivesse sido considerado sagrado; não era. Em vez disso, foi simplesmente perdido até o século XIX. Ou pelo menos mantido em segredo. Então, quando o esperado ataque aos templário finalmente chegou, eles estavam preparados.

Em 13 de outubro de 1307, o comando saiu para prender os Cavaleiros Templários. Naquele dia e nas semanas seguintes, 600 dos 3000 cavaleiros na França foram presos. Eram apenas cavaleiros. Cada um tinha uma comitiva de escudeiros, servos e assessores que não foram presos. Assim, a organização templário ainda tinha milhares que não foram apreendidos. Alguns viajavam regularmente pelos Alpes para a Suíça, que já havia sido uma província dos reis merovíngios e onde a pequena cidade de Sion já segurou a casa da moeda merovíngio.

As passagens alpinas suíças e sua localização central trouxeram o comércio através do país e permitiram aos artesãos acesso a mercados fora de seu país. Feiras e mercados desses tempos sempre tiveram banqueiros e agiotas que auxiliavam os comerciantes. As semelhanças entre a invenção templário do banco internacional e o papel principal da Suíça no setor bancário hoje não são coincidência.

Quantos cavaleiros templários entraram na Suíça, não sabemos. A família Hapsburg "controlava" cantões suíços e não permitia que ninguém desafiasse sua capacidade de tributar os cantões. Eles permitiram que os cantões se governassem na lei e costumes, desde que pagassem seus impostos. Os templários, no entanto, existiam há quase 200 anos sem pagar impostos. Infelizmente, os suíços, conhecidos por seu sigilo, ou sabem pouco de sua história inicial ou deliberadamente afirmam não saber.

 

William Tell (Guilherme Tell) e Independência Suíça

A história de William Tell pode ser um conto de capa para o novo desafio ao estabelecimento de Hapsburg. Diz-se que é um mito, mas ao contrário de mitos que começam com períodos nebulosos , a história de William Tell começa com uma data exata. Em 18 de novembro de 1307, William Tell visitou a cidade de Altdorf com seu filho. Isso foi cinco semanas depois que os templários fugiram da França antes de suas prisões. Altdorf foi um município de Uri, um dos três primeiros cantões a se unir logo após a derrota dos templários no Acre. Ele teria se supostamente ofendido Albrecht Gessler, que era o "Vogt", um representante burocrata nomeado pelos Habsburgos. O Vogt pendurou o chapéu no centro da cidade e declarou que todos que passavam pelo chapéu tinham que se curvar a ele. Tell passou e publicamente se recusou a se curvar. Gessler queria prender o estranho, mas em vez disso o desafiou a atirar uma maçã da cabeça de seu filho com uma flecha. Tell realizou o desafio perigoso e Gessler comentou que ele ainda segurava outra flecha. A resposta de Tell foi que foi a outra flexa era para matar Gessler se ele errasse. O resultado foi que Tell matou Gessler com uma flechada de longa distância. Isto foi o início da luta por liberdade incendiou os cantões contra os soberanos hapsburg. Tell teve um papel de liderança na rebelião que se seguiu. Em 1307-1308 muitos fortes dos Hapsburgs foram destruídos e isso, de fato, uniu outros e finalmente trouxe a Confederação Suíça. Tell era declarado o "primeiro confederado" em uma canção de suas façanhas.

 

A Guarda Escocesa e a Guarda Suíça

Possivelmente o maior contingente de templários em fuga foi para os braços acolhedores da Escócia. Na Escócia, Robert Bruce desafiou o poder do Rei da Inglaterra e declarou a independência da Escócia. O exército inglês cavalgaria para o norte e encontraria os escoceses em Bannockburn. Parecia que os escoceses seriam derrotados, mas a força dos Cavaleiros Templários entrou em batalha e virou o jogo. Era 24 de junho de 1314, a festa de São João Batista, o dia mais sagrado para os templários. Logo depois, a Guarda Escocesa tornou-se uma força militar de aluguel.

 Na Suíça, os cantões suíços decidiram não pagar os impostos feudais impostos a eles. Os duques de Hapsburg não estavam dispostos a desistir. Em 1315, apenas um ano depois de Bannockburn, os duques enviaram um exército para cobrar os impostos feudais. Como com a invasão inglesa da Escócia, os Hapsburgs pensaram que os pequenos cantões não tinham chance de resistir ao seu exército. Mas, como os ingleses em Bannockburn, os Hapsburgs não estavam prontos para o exército que enfrentaram. Na Passagem de Morgarten, a infantaria de Uri e Schwyz derrotou a cavalaria austríaca no que ficou conhecido como "a Maratona da Suíça". Como na vitória escocesa em Bannockburn, os suíços lutaram e derrotaram um inimigo maior. Sem dúvida incorporando ex-templários, bem como seu treinamento e apoio, os suíços formariam a Guarda Suíça. Que se tornou também uma força mercenária famosa que só podia ser alugada com a aprovação da própria Guarda, não pelos caprichos de um rei. Ironicamente, a Guarda Suíça seria contratada para defender o Vaticano.

A Pontifícia Guarda Suíça teve suas origens no século XV quando o Papa Sisto IV fez uma aliança com a Confederação Suíça. A história mostra sua independência em nem sempre lutar por um país. Eles lutaram pela França contra Nápoles, e tanto a favor quanto contra o Sacro Império Romano-Germânico. Sua bravura, no entanto, nunca esteve em questão. Como os templários, eles nunca fugiram de grandes chances. Em 6 de maio de 1527, 189 guardas suíços lutaram contra o Sacro Império Romano-Germânico. Enquanto 40 membros da guarda ajudaram o Papa Clemente VII a escapar, 147 dos 189 morreram, incluindo seu comandante.

A Confederação Suíça cresceu com a adição de Zurique, Berna, Lucerna e Zug. Embora tivesse uma forte força de combate, declarou sua neutralidade. Levaria mais dois séculos para completar a formação do que se tornou a Suíça. Ao se tornarem uma nação neutra, eles possivelmente estavam se protegendo da França católica e da Áustria católica a oeste e leste. Eles nem sempre eram neutros, no entanto, e tinham tomado Lugano e outras propriedades italianas enquanto a Itália ainda era um estado interrompido  Curiosamente , em um país muito protestante, a Guarda Suíça é composta por cidadãos suíços que são treinados no exército suíço e praticam a religião católica.

Não é coincidência que a moderna Cruz Vermelha também tenha nascido na Suíça. A batalha de Solferino foi travada em 24 de junho de 1857. Como Bannockburn esta foi a Festa de São João Batista. A história diz que um jovem chamado Henri Jean Dunant veio examinar os danos. Mais tarde, ele produziu um livro sobre o campo de batalha e apresentou-o a cidadãos ricos e proeminentes para criar uma organização internacional de trabalhadores de ajuda. A Suíça na época era uma Confederação de 22 cantões e 3000 comunas. Sua neutralidade foi reiterada e protegida pelo Tratado da Vestfália em 1648 e confirmada pelo Tratado de Viena em 1815. Cinco dos homens proeminentes se reuniram e concordaram em convocar uma reunião maior. O Príncipe Heinrich XIII de Reuss representou a Ordem de São João de Jerusalém e tornou-se vice-presidente. Impressionados com a conexão de St. John, os delegados vieram de todo o mundo. O QG estava em Basle. Quartos foram levados em uma capela de propriedade dos cavaleiros teutônicos.


O País que os Templários Criaram

A Suíça Moderna foi construída sobre bancos, sigilo bancário, engenharia de precisão e produtos farmacêuticos. As finanças são o pilar central da economia suíça. Enquanto o sigilo bancário está na defesa da Receita Federal, mais de cinco trilhões de dólares de riqueza "transfronteiriço" é conhecido por estar depositada na Suíça. Como o banco templário de séculos antes, os bancos da Suíça atendem governantes internacionais, que muitas vezes tratam as riquezas de sua nação como suas. Os bancos suíços, por sua vez, foram acusados de tratar o dinheiro depositado como pertencente a eles. Quando o presidente Mobutu do Zaire morreu no exílio em 1997, jornais suíços informaram que ele tinha 5 bilhões de dólares depositados em seus bancos. Os bancos suíços devolveram US$ 8 milhões.

Os estudos científicos templários, outrora apelidados de alquimia, são espelhados no domínio das empresas químicas e farmacêuticas suíças. Zeochem, Novartis e Hoffman-L Roche são empresas suíças com uma base internacional de clientes.

Finalmente, os templários e sua ordem irmã de São Bernardo, os cistercianos, eram conhecidos por suas habilidades de engenharia. Hoje, o maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo fica dentro da fronteira suíça com a França. Este é o CERN. A maioria dos americanos ouviu falar disso apenas através dos Anjos e Demônios de Dan Brown quando seu personagem Robert Langdon descobre que a tecnologia CERN será usada para destruir o Vaticano. (Outros teóricos da conspiração temem que o CERN possa destruir o planeta.) Deve-se notar que foi um cientista do CERN, que inventou a World Wide Web em 1989.

A ordem templário que o rei francês e o Papa forçaram a se esconder, permanece vivo e se escondendo à vista de todos, na Suíça, o centro da Europa.


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por deniswo - 01 de novembro de 2014.
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quarta-feira, 27 de julho de 2016

5.6.3 Consciente - Da sua dificuldade de lógica pura.

5.6.3      Consciente - Da sua dificuldade de lógica pura.


É a percepção de que sofremos uma grande dificuldade para evitarmos a influência do subconsciente. O subconsciente, influenciado por inúmeras percepções que capta do ambiente, misturadas a outras tantas que captou no passado. Ele nos inunda com gostos, sentimentos e desejos de pouca base lógica. Deste modo, nossos gostos, sentimentos e desejos representam uma construção contaminada. E da mesma forma que mencionamos sobre o quebra-cabeças do conhecimento. Ao tomarmos decisões, estes sentimentos, gostos e desejos contaminados, contaminam toda lógica futura. Um maior nível de lógica costuma ser uma característica que leva a decisões mais acertadas. E em muitos momentos da vida precisamos nos livrar dos sentimentos e executarmos pensamentos puramente lógicos e racionais. Como na expressão do latim “aequo animo” que significa: decidir com equilíbrio de julgamento, com isenção de ânimo, sem influências da vontade. Usando apenas o recurso da lógica e racionalidade para guiar o processo decisório.
Pa muitos filósofos este é o grande desafio do ser humano, Isto requer uma grande capacidade de reflexão e autocritica. O prêmio para estes super-humanos é uma real liberdade, pois isto lhes dá maior capacidade de autonomia ou autodeterminação.
Como diria o filosofo Kant, ser livre é ser autônomo, isto é, dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Pois o que difere o homem dos outros animais é a sua capacidade de pensar para agir.
“Quando nós, tal como os animais buscamos o prazer ou a satisfação de nosso desejos, ou buscamos evitar o sofrimento. Não estamos agindo livremente, estamos agindo como escravos desses apetites e impulsos.“
Para Kant, a liberdade é o oposto da necessidade. Como quando você sente necessidade de consumir um produto oferecido por propagandas psicologicamente estudadas. Você ira pensar que sua escolha foi sua, mas na realidade você está obedecendo a um desejo que não foi você que escolheu ou criou.
Kant tenta nos fazer perceber que ao associarmos a ideia de felicidade com ideia de acúmulo de desejos saciados. Nos expomos a um vício comparável ao da heroína ou crack. Tendemos a priorizar a busca pelos prazeres dos sentidos e das vaidades, sem perceber que quanto mais se sacia um prazer biológico ou vaidoso, mais extravagantes e intensos estes prazeres terão de ser futuramente, a fim de se obter o mesmo nível de satisfação.
Este mesmo perigo foi sabiamente identificado por Epicuro, que buscou construir uma nova sociedade baseada na simplicidade. Em manter a consciência focada em valorizar os prazeres que geram felicidade e não se desgastam. Como comer, dormir, conviver com amigos, carinho, sexo – Fontes de felicidade naturais e necessárias, que facilmente podem nos dar prazer por toda a vida se forem praticadas com moderação. O exagero pode promover a perda da sensibilidade ao prazer. Para Epicuro a felicidade só requer três coisas: liberdade, amigos e tempo para filosofar.
“Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros são naturais e não necessários; outros nem naturais nem necessários, mas nascidos apenas de uma vã opinião.” Epicuro
É importante entender o significado destas palavras para Epicuro.
Em seus textos “liberdade” é definida como autossuficiência. Por este motivo ele construiu e viveu em uma comunidade agrícola que ficou conhecida como o Jardim de Epicuro. Lá ele e seus amigos plantavam e viviam de forma autossuficiente. Portanto, quando ele se refere a necessidade de “amigos” poderíamos interpretar como a necessidade do coletivo. Já a necessidade de “tempo para filosofar” como sendo o tempo para manter-se focado no estudo e manutenção da felicidade.
Estudiosos acreditam que ele tenha escrito mais de trezentas obras. Porem poucos textos ou referências a seus pensamentos sobreviveram a destruição do conhecimento humano promovida pela igreja na idade média.
Confira abaixo trechos de uma carta que Epicuro escreveu a Meneceu, um de seus discípulos. Escrita por Epicuro por volta de 300 a.C, também conhecida por Carta sobre a felicidade, e trata de uma questão fundamental para a Filosofia, que diz respeito a como podemos alcançar a felicidade e de como nos mantermos felizes.
“Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para este estudo ainda não chegou ou já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir. Temos portanto de estudar o meio de assegurar a felicidade, visto que se a tivermos, temos tudo, mas se não a tivermos, fazemos tudo para a obter.
...
Tal como não escolhe a comida da qual há maior quantidade mas a que é mais agradável, também não procura a satisfação da vida mais longa mas sim a da mais feliz.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem é tolo não apenas porque a vida é desejável para ambos, mas também porque a arte de viver bem e a arte de morrer bem são uma só. Contudo, muito pior é quem diz que é bom não ter nascido mas, uma vez nascido, que o melhor é passar depressa pelos portões do Hades.
Se um homem diz isto e realmente acredita nisto, por que razão não se retira da vida? Certamente que os meios estão à mão se for realmente essa a sua convicção. Se o diz a zombar, é visto como um tolo entre quem não aceita o seu ensinamento.
Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, de modo que nem podemos contar com a certeza que ele virá, nem contarmos com a certeza de que não virá e acabarmos abandonando a esperança nele.
Tens de considerar que alguns desejos são naturais, outros vãos (fúteis), e dos que são naturais alguns são necessários e outros apenas naturais. Dos desejos naturais, alguns são necessários para a felicidade, alguns para o bem-estar do corpo, alguns para a própria vida. O homem que tem um conhecimento perfeito disto saberá como fazer toda a sua escolha ou rejeição tender para ganhar saúde do corpo e serenidade da mente, dado que este é o fim último da vida bem-aventurada. Em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo. Quando se atinge esta condição, toda a tempestade da alma sossega, dado que a criatura nada mais precisa de fazer para procurar algo que lhe falte, nem de procurar qualquer outra coisa para completar o bem-estar da alma e do corpo.
De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos com sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.
É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todo o prazer deve ser escolhido. Do mesmo modo, toda dor é um mal, contudo, nem toda dor deve ser evitada em todas as ocasiões. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Sob certas circunstâncias devemos tratar o bem como mal e, igualmente, o mal como bem.
Encaramos a autossuficiência como um grande bem, não para que possamos desfrutar apenas de poucas coisas, mas para que, se não tivermos muitas, nos possamos satisfazer com as poucas, estando firmemente persuadidos de que quem retira o maior prazer do luxo é quem o encara como menos preciso, e que tudo o que é natural se obtém facilmente, ao passo que os prazeres vãos são difíceis de obter.
Na verdade, os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela dependência. Pão e água dão o máximo prazer quando uma pessoa necessitada os consome.
Habituar-se à vida simples e básica conduz à saúde e faz um homem ficar pronto a enfrentar as tarefas necessárias da vida. Prepara-nos também melhor para usufruir o luxo se por vezes tivermos a sorte de o encontrar, e faz-nos intrépidos face à fortuna.
Quando dizemos que o prazer é o fim, não queremos dizer o prazer do extravagante ou o que depende da satisfação física — como pensam algumas pessoas que não compreendem os nossos ensinamentos, discordam deles ou os interpretam malevolamente — mas por prazer queremos dizer o estado em que o corpo se libertou da dor e a mente da ansiedade.
Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem o amor sexual, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que promovem  a vida feliz, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as falsas crenças que promovem a perturbação da mente.
De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia ; é dela que originaram todas as demais virtudes...”  Epicuro - Carta a Meneceu
A essência de sua filosofia epicurista, está na ideia de que a vida deve ser feita de escolhas prudentes, que visem não apenas o momento, mas o resultado delas para a vida como um todo. É desta visão a longo prazo e num contexto global que ela proclama que devemos refletir sobre nossos desejos e escolhas.
Assim como Epicuro, também Kant, identifica que a liberdade é sinônimo de autonomia. Liberdade é quando conseguimos superar nossos gostos, sentimentos e desejos a fim de escolher racionalmente nossas próprias regras de conduta. É quando, após grande reflexão, impomos leis a nos mesmos! Neste momento estamos exercendo a verdadeira autonomia, estamos agindo livres de nossos impulsos irracionais ou de influências culturais.
Obviamente que Epicuro vai além, e defende que esta autonomia sobre os desejos deve ser direcionada a autossuficiência e a vida simples como forma de evitar o desgaste dos sentidos e preservar a habilidade de sentir os prazeres que a natureza nos proporciona de forma tão fácil e segura. Em outro texto, Epicuro afirma:
“Graças sejam rendidas à bem-aventurada Natureza que fez com que as coisas necessárias sejam fáceis de alcançar e que as coisas difíceis de alcançar não sejam necessárias”

Em resumo, o que concluo destes dois pensadores é que: Quem deixa sua vida ser guiada por gostos e desejos, sem perceber, é um escravo. E será escravizado por todos que souberem lhe provocar desejos. Somente pode considerar-se livre aquele que, a luz da ciência e da razão, escolhe seus gostos e desejos.