Gostaria de iniciar este texto pedindo que ouçam com o
coração aberto, a profundidade da letra desta música.
Quando escuto esta letra, penso em como a vida é curta, como
deixamos tanto de nosso precioso tempo se esvair envolvidos em atividades que
não nos completam, em obras que não acreditamos e, principalmente, construindo
uma sociedade que não nos dá o retorno esperado. Desde jovem tenho buscado respostas
ao sentido da vida. E foi fácil perceber que este sentido passa pelo sentimento
de grupo, de pertencimento a uma sociedade, como um pai (no latim “pátrio”) que
nos une, acolhe e protege. Há necessidades humanas que só podem ser supridas
pelo grupo, pelo sentimento de tribo que carregamos em nosso inconsciente
primitivo. Não há como pensar em “felicidade plena” sem que tenhamos nossa
tribo. A psicologia, sociologia e antropologia já identificaram isto como sendo
de uma influência tão profunda que cada vez mais estas ciências se fundem num
estudo deste fenômeno, hoje chamado de Metacontingência. Resumindo, a conclusão
é que: se queremos mudar nossas vidas, temos de nos cercar de pessoas que
queiram o mesmo ou estaremos fadados ao fracasso! Andorinha sozinha não faz
verão!!!
A explicação é que nossos inconscientes evoluíram e se
moldaram para viver em grupos pequenos com média de 40 indivíduos, grupos com autossuficiência
e independência que se reuniam a outros grupos semelhantes apenas em momentos
de conveniência, mantendo assim sua liberdade e autossuficiência (Algo como o
que as cidades Suíças preservam até hoje). Desta forma, podiam funcionar como
células reunidas e dar conta de necessidades maiores. Estes estudos aliados aos
fatos históricos, nos deixa claro de que existe um número ideal... Que uma
sociedade requer um planejamento, um número adequado de indivíduos, como uma colmeia,
uma tribo indígena. Claro que estes números variam conforme variáveis de
ambiente e tempo. Mas isto nos revela que existe uma forma correta de viver. E
que esta forma vai além de aspectos culturais, ou de crenças individuais. Existe
a forma correta de um ser humano viver, assim como existe a forma correta de um
leão, elefante, golfinho, formiga, ... e isto está escrito em nossos genes, faz
parte de nossa natureza. Assim como a tartaruguinha que sai do ovo na beira da
praia e já sabe o que deve fazer, desenterrar-se e correr para o mar. Sabe seguir
os impulsos de sua natureza. Impulsos tão fortes que mesmo depois de adulta e
ter navegado por longínquos mares, retorna para desovar na praia onde nasceu. Quanta
beleza e sabedoria há nestas leis da natureza que nós, seres vivos, carregamos!
Se existe uma felicidade plena, um nirvana, um paraíso sobre a terra... Sei que
ele está escrito neste plano da natureza, escrito em nossos genes! Acho que só
precisamos repensar, olhar além das amarras de nossa cultura e tentar ouvir o nosso lado primitivo. Recentemente consegui uma cópia de um documentário
canadense da década de 60. Ele mostra a vida e cotidiano dos Netsilik (uma
tribo de esquimós - até aquele momento pouco conhecida e isolada no extremo
norte do Ártico). É impressionante como temos uma idéia errada sobre a
qualidade de vida destes povos primitivos. Nestas filmagens eles constroem amplos
iglus em poucas horas, fazendo o nosso sonho da casa própria parecer tão fácil! Se
divertem construindo trenos e caiaques com uma precisão e engenhosidade que
envergonharia grandes engenheiros. Riem constantemente e se divertem com a
mesma facilidade com que pescam e caçam. Suas habilidades em fazervroupas
de pele engenhosas (e sob medida) contrasta com a simplicidade com que comem
peixe cru. Muito cedo as crianças participam das atividades adultas e assumindo responsabilidades e tarefas. As semelhanças com a cultura de outros índios, como
os da Amazônia, parecem mais uma vez revelar que existem padrões,
idades adequadas e formas de comportamento que são filogenéticas (que são próprias da
espécie) que estão gravadas nos genes por decorrência de milhares de anos de
evolução. Acredito que mesmo envoltas por uma educação voltada a autossuficiência, para estas crianças, em nenhum momento lhes é tirada o
lado bom da infância. Na verdade, imagino que neste estilo de
vida, mesmo os adultos preservam este lado criança por toda vida... O trabalho está envolto
e unido a ideia de diversão.
Portanto, nossa forma natural de ser, agir e existir está
sendo oprimida pela nossa cultura moderna. Não digo que tenhamos de voltar a
viver como índios, mas precisamos caminhar nesta direção e encontrar um ponto
de equilíbrio no meio desta jornada. Precisamos disto como uma religião (do
latim religiare= religar-se) nos religarmos novamente ao nosso projeto natural.
Isto passa por reaprendermos a sermos autossuficientes como indivíduos. Autossuficientes
não decorrente de dinheiro ou pelo poder aquisitivo. Mas pelo conhecimento das
habilidades de viver da natureza e, com a natureza! De sermos capazes de sobreviver como
indivíduos. Algo como o “Be Prepared” dos escoteiros... É fácil perceber como
esta sede de domínio da autossuficiência está presente no nosso inconsciente,
principalmente dos mais sensíveis. Cada vez mais crescem os programas de TV e
sites sobre técnicas de sobrevivência, vida simples, vivendo longe do caos da
vida moderna. Uma parcela da humanidade já percebeu que a felicidade não está
no dinheiro, nem nos sonhos de consumo... porém, muitos creem em ideais de segurança.
Numa cultura do “medo” medo da morte e medo da dor... supervalorizam a “segurança”
num medo capaz de tirar a coragem para a vida. Tornando-os apáticos expectadores
à espera da morte. A grande verdade é que a nossa vida está passando, estamos envelhecendo
e morrendo a cada dia, e em menos de 100 anos estaremos mortos. Olhe para a
janela ou ande pelas ruas e pense... daqui a 200 anos todas aquelas pessoas que
você vê estarão mortas... todas as pessoas que você conhece e que respiram
neste planeta, estarão mortas. Mas, toda uma nova humanidade estará andando
sobre a terra. Temos que perder esta cultura do medo e usar nosso tempo e
energia para algo que valha a pena. Não temos de temer a morte, mas a vida sem
propósito!!! A morte já está vindo, não duvide disto! Seja sábio para compreendê-la
como algo bom!!! Foi graças a morte (este eterno ciclo de transformação) que você
pode nascer e crescer. Perca o medo dela e faça algo que valha ser lembrado,
algo que você e as próximas gerações possam se orgulhar. De o melhor propósito possível
para a sua vida!!! Temos de ter a coragem para de repensar nossos valores e a nossa
cultura. De buscar a união para fazer as mudanças necessárias e construir as
tribos capazes de nos tirar desta vida de sobrevivência! Temos de olhar para o
passado e reaprender a viver!
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