quarta-feira, 16 de setembro de 2015

CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

quarta-feira, 26 de março de 2008

CAVALEIROS TEMPLÁRIOS


DÉBORA F. LERRER


Com o objetivo de proteger as rotas de peregrinação, os Cavaleiros Templários construíram, em menos de 200 anos, um império econômico sem igual na Idade Média. Os anos de glória e a queda violenta e injusta desta ordem de monges guerreiros deram vazão ao surgimento de várias lendas e histórias sobre esses cavaleiros, que foram a vanguarda da espiritualidade cristã da época
A ordem dos monges guerreiros, que se tornou uma das mais poderosas e controversas organizações na história da Europa medieval, era conhecida com uma variedade de nomes: Pobres Soldados de Cristo e do Templo de Salomão, Milícia de Cristo ou, mais comumente, Cavaleiro Templários. Em 200 anos, a partir de seu objetivo de proteger as rotas de peregrinação, eles construíram um império econômico que pode ser considerado a primeira multinacional européia. Devendo obediência apenas ao papa, os Templários desenvolveram arrojadas técnicas de construção, trouxeram tecnologias dos muçulmanos e se tornaram mais ricos do que vários reinos, emprestando dinheiro para príncipes, bispos e reis. Famosos por sua bravura nas batalhas travadas nas Cruzadas, foram destruídos em menos de uma década por um rei que, não por acaso, era altamente endividado com a Ordem. Para o historiador Ricardo da Costa, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, os templários podem ser considerados os fundamentalistas da época. "Eles estavam na vanguarda da espiritualidade cristã. Ser um padre e ao mesmo tempo combater o infiel era considerado o máximo para a época".

A fundação da ordem

Em 1118, os cavaleiros Hugh de Payen e André de Montbard (tio do abade Bernard de Clairvaux, famoso pregador da época), junto com sete companheiros, se apresentaram para o Rei Balduíno I de Jerusalém, anunciando que tinham a intenção de fundar uma ordem de monges guerreiros e, na medida em que sua força permitisse, manteriam seguras as estradas e caminhos com especial atenção para a proteção dos peregrinos. A nova ordem fez votos de pobreza pessoal, de obediência e de castidade e jurou manter todo seu patrimônio em comum.
Os primeiros Templários passaram nove anos na Terra Santa, alojados em uma parte do palácio que foi cedida a eles pelo rei, exatamente em cima dos estábulos do que outrora foi o antigo Templo de Salomão. Daí veio o nome de cavaleiros do Templo, ou Templários. Para Tim Wallace-Murphy, responsável pela página da Rede Européia de Pesquisa da Herança Templária (ETHRN), a principal razão para a fundação da Ordem, ou seja, a proteção das rotas de peregrinação, não se sustenta - se analisados os primeiros anos da sua existência. Seria fisicamente impossível que nove cavaleiros de meia-idade protegessem as perigosas rotas entre Jaffa e Jerusalém de todos os bandidos e saqueadores infiéis, que acreditavam que os peregrinos que lhes garantiam roubos tão fáceis eram um presente de Deus. Já os indícios existentes das ações desses cavaleiros na região fazem essa hipótese ser ainda mais improvável, pois ao invés de patrulharem as rotas da Terra Santa para proteger peregrinos, eles passaram nove anos na tarefa perigosa e exigente de re-abrir uma série de túneis localizados sob seus quarteirões no Templo do Monte.
Os túneis explorados pelos Templários foram re-escavados em 1867, por um oficial da coroa britânica. Ele não encontrou o tesouro escondido do Templo de Jerusalém, mas pedaços de uma lança e de uma espada, esporas e uma pequena cruz templária, hoje guardados na Escócia. O que os Templários estariam procurando e como eles sabiam exatamente onde escavar?
No exterior da Catedral de Chartres, na porta do norte, está esculpida uma imagem no pilar que nos dá uma indicação do objeto procurado pelos Templários: a Arca da Aliança, representada sendo transportada em um veículo de rodas. Várias lendas contavam que a Arca ficou escondida por muito tempo embaixo da cripta da Catedral de Chartres. As mesmas lendas alegam que os Templários teriam encontrado muitos outros artefatos sagrados do velho templo judeu durante suas investigações, bem como uma considerável quantidade de documentação.

Primeira multinacional européia

A medida em que a Ordem crescia em prestígio, suas finanças também aumentavam vertiginosamente. Parte porque membros das famílias mais importantes da Europa se integravam a suas hostes, mas também porque a aristocracia européia acreditava que ao doar suas propriedades a eles, garantiam de antemão a salvação de sua alma. Rapidamente a Ordem tornou-se dona de terras de vários tamanhos espalhadas por todas as regiões européias da Dinamarca à Escócia, ao Norte, até a França, Itália e Espanha, no Sul. "O Rei de Aragão chegou a doar todo seu reino a eles", conta o historiador Costa.
Os interesses comerciais dos Templários eram impressionantes e variados, e suas atividades incluíam administração de fazendas, vinhas, minas e extração de pedras. Como resultado de seu interesse em proteger peregrinos e a manutenção de comunicações com suas bases operativas na Terra Santa, os templários operavam uma frota muito bem organizada que excedia a de qualquer reino daquele tempo. Em menos de 50 anos de sua fundação, os Cavaleiros Templários se tornaram uma força comercial com poder sem igual na Europa. Em cem anos, já haviam desenvolvido um precursor medieval dos conglomerados multinacionais, com interesses em todas as formas de atividades comerciais daquele tempo. Eram de longe muito mais ricos do que qualquer reino europeu.
Entre os principais itens de suas atividades comerciais estavam aquelas que hoje seriam definidas como de "tecnologia e idéias". A rede de comunicação dos Templários era a principal rota pela qual conhecimentos de astronomia, matemática, medicina fitoterápica e técnicas de cura faziam seu caminho da Terra Santa para a Europa. Entre esses avanços tecnológicos trazidos pelos cavaleiros estavam a respiração boca-a-boca e o telescópio.
Os Templários também eram grandes construtores. Em seus próprios Estados eles construíram e sustentaram castelos fortificados, fazendas, celeiros e moinhos, bem como alojamentos, estábulos e oficinas. Diversas ruínas particularmente no Sul da Europa e na Palestina demonstram a razão pela qual eles eram particularmente famosos como engenheiros, pois seus castelos foram construídos em locais estratégicos para defesa que colocavam enormes desafios e dificuldades de construção. As clássicas igrejas templárias, supostamente inspiradas no design da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, influenciou a construção de muitas catedrais européias, especialmente a Catedral de Chartres, na França.

Monges banqueiros

Os templários souberam usar a imensa riqueza que foram acumulando com muita habilidade. Além de investir em terra e agricultura e em indústrias de base para a expansão de construções na Europa, eles adotaram um conceito de transferência financeira, aprendido com seus oponentes muçulmanos, para desenvolver os antepassados dos atuais cheques bancários e do cartão de crédito. Segundo Ricardo da Costa, eles são considerados "um dos grupos fundadores de um sistema bancário internacional".
A carta de crédito templário foi desenvolvida a partir das necessidades financeiras surgidas pelo equivalente medieval de "pacotes turísticos" - as peregrinações religiosas e as cruzadas. Para Roma, Jerusalém ou Santiago Compostela, uma peregrinação era uma longa, difícil e cara aventura para o peregrino - e uma fonte de imenso lucro para a Igreja, estalajadeiros, barqueiros, etc. Para evitar assaltos, extorsões e acidentes imprevistos, o peregrino tinha que ser muito atento e cuidadoso ao carregar grandes somas de dinheiro enquanto viajava. Para resolver esse problema, eles simplesmente procuravam o mestre do comando Templário da região e depositavam fundos suficientes para cobrir o custo estimado da jornada. Em retorno ao depósito, o Templário lhe daria um cupom codificado como um recibo e como meio de compra. A cada parada, ele apresentava seu cupom ao representante Templário local que lhe daria a soma necessária, recodificaria o cupom e devolveria a seu proprietário.

A fortuna dos Templários e seus serviços financeiros eram não só procuradas por mercadores e donos de terra da Europa feudal. Eles emprestavam para bispos, príncipes, reis e imperadores financiarem guerras, construções e cruzadas. Embora Ricardo da Costa considere um exagero, para Tim Wallace-Murphy a segurança financeira e viagens seguras a longa distâncias garantidas pelos Templários foi um fator importante no processo de acumulação de capital e no surgimento da classe de mercadores e de uma burguesia urbana. Para ele, a eficiência dos Templários foi o que fomentou essa mudança rápida no cenário europeu medieval. Mas tanta opulência despertou a cobiça de gente muito poderosa e os Templários foram banidos tão rapidamente como surgiram.
Queda na Terra Santa e na Europa

Os Templários perderam Jerusalém para Saladin em 1187, mas se reinstalaram novamente em seu quartel-general em 1228, quando Frederick II conseguiu retomar controle de Jerusalém. Pouco tempo depois, em 1244, a ordem foi novamente expulsa de lá, quando a cidade caiu sob domínio das forças turcas.Ao perder suas bases em Jerusalém, a Ordem se mudou para o Porto de Acre, que havia sido capturado por Ricardo Coração de Leão. Ocupando uma parte substancial de Acre, o castelo dos Templários com suas numerosa torres e paredes altas era o local mais fortificado da cidade. Eles mantiveram essa fortaleza até 1291, quando a cidade caiu definitivamente na mão dos muçulmanos.Após a queda de Acre, os Templários mudaram seu quartel-general para a Ilha de Chipre, onde já tinham uma base importante. De lá, os cavaleiros tentavam minar o domínio muçulmano na Terra Santa. Entretanto, o domínio dos Templários na Ilha era extremamente severo e os cipriotas planejaram um levante já em 1292. Embora tenham reprimido a conspiração, os Templários perceberam que era muito difícil controlar a ilha à força e decidiram retornar à Europa.
Muito pouco tempo depois de perder seus domínios no Oriente Médio, os Templários se depararam com um inimigo infinitamente mais ardiloso que conseguiu destruir a Ordem: o rei Felipe IV, o Belo, da França (1268-1314). Um dos monarcas mais endividados com os Templários, Felipe também tinha ressentimentos, pois sua candidatura para ser cavaleiro da Ordem fora recusada. Além de precisar cancelar seus enormes débitos, ele enxergou a oportunidade de se apropriar das riquezas dos Templários se conseguisse destruí-los.
Por outro lado, sendo um rei devotado à estruturação do Estado nacional francês, a existência de uma ordem tão poderosa, com tantos territórios e propriedades dentro de seu reino era visto como um obstáculo. "Ele não teve escrúpulos ao colocar os direitos do Estado acima de qualquer coisa", diz Costa. As aspirações de Felipe também foram favorecidas pela morte misteriosa de dois papas (curiosamente inimigos do rei da França) e a eleição de um francês, Clement V, uma pessoa débil e facilmente manejável que foi altamente pressionada por Felipe e acabou por acatar todas as provas apresentadas contra os cavaleiros Templários, obtidas provavelmente mediante tortura. Razões plausíveis não foram difíceis de encontrar em uma era dominada pela Inquisição. Cavaleiros expulsos da Ordem foram facilmente subornados e acusaram seus antigos companheiros de heresia, ritos blasfemos, sodomia e culto a um diabo em forma de um gato preto chamado Bafomet. De acordo com Costa, só uma acusação contra eles tinha fundo de verdade: a de que ao invés de combaterem os muçulmanos, eles estavam estabelecendo relações comerciais com eles. 

Segundo o historiador, vários relatos de muçulmanos da época, como os do príncipe Usama, atestam a tolerância religiosa dos Templários. O rei francês maquinou sua cilada em segredo e em 13 de Outubro de 1307, Jacques de Molay, Grande Mestre dos Templários, e 60 dos mais importantes cavaleiros foram presos em Paris. Simultaneamente milhares de cavaleiros foram presos em todo território francês. Sob as ordens do rei, o alto comando Templário foi torturado por vários anos, confessando o que seus acusadores queriam escutar e oferecendo a base jurídica para a supressão da Ordem em 1312. Sete anos depois, em 14 de Março de 1314, após renegar todas as confissões obtidas por tortura, Jacques de Molay foi queimado vivo em público. Enquanto queimava em agonia, Molay convidou Felipe e o Papa Clement a juntarem-se a ele perante o julgamento de Deus em um ano. Ambos morreram em menos de um ano da morte de Molay, ajudando a reforçar os mitos em torno dos Templários. Oficialmente, a Igreja considera que os Templários foram suprimidos completamente após esse processo. Entretanto, reações diante da supressão dos Templários variaram de país para país. 

Os cavaleiros alemães da Ordem se juntaram aos Cavaleiros Hospitaleiros e aos Cavaleiros Teutônicos que receberam os bens dos Templários nesse país. 

Em Portugal, os Templários não foram suprimidos, simplesmente mudaram seu nome para Cavaleiros de Cristo e continuaram tendo apoio real. Muitos anos depois, o navegador Vasco da Gama tornou-se um de seus membros, e o Príncipe Henrique, o Navegador, era Grande Mestre da Ordem rebatizada. As cruzes que ornamentavam as caravelas de Pedro Álvares Cabral eram templares. 

Na Espanha, muitos ex-Templários foram estimulados a se juntar a outras Ordens militares, para ajudar na luta contra o domínio mouro na região.

De acordo com muitos membros da Ordem Militar Soberana do Templo de Jerusalém (SMOTJ), os Templários não terminaram em 1314. Um documento chamado "Larmenius Charte" mostra uma lista de Grandes Mestres que se sucederam no comando da Ordem até 1838. É provável é que a influência dos Templários tenha de fato continuado na maior parte da Europa, mas não mais como a ordem original que estava vinculada diretamente ao papa. 

Hoje existem até autores como Alan Butler e Stephen Dafoe que acreditam que os Templários foram para onde hoje é a Suíça, ajudando os camponeses locais a formar a Confederação Helvética, independente dos grandes reinos que haviam em torno. Butler e Dafoe também acreditam que a conhecida habilidade financeira dos suíços também teria conexão com seus supostos ancestrais Templários.Oficialmente, a Igreja reconhece que somente após a 2º Guerra Mundial a Ordem voltou a surgir em forma cristã supraconfessional (acima de qualquer confissão) com o objetivo de contrastar com o paganismo moderno.

De qualquer modo, há vários grupos, muitos deles maçons, que reivindicam para si uma conexão com os Templários. Ricardo da Costa considera isso uma apropriação indébita, pois a Igreja, da qual os Templários eram militantes fervorosos sempre combateu a maçonaria. Descendentes ou não dos bravos cavaleiros medievais, eles mantêm aceso o mito dos Templários.

2 comentários:

  1. Tenho muito interesse neste assunto. Quando possivel de continuidade. congratulations

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  2. Sr. Ricardo ignora o fato de ser o papa Clemente V e o Rei da franÇa FELIPE (O Belo) os algozes da referida ordem, desconheço a fuga dos templários para a suíça, é sabido que grande parte da fortuna da ordem foi levada para Portugal e Espanha, fortuna essa que foi utilizada para financia as grandes navegações basta verificar nas caravelas tanto portuguesas como espanholas que em suas velas trazia pintada de vermelho a cruz simbolo da referida ordem!

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