quinta-feira, 11 de junho de 2015

Porque o escotismo

Desde jovem eu tenho um lado idealista muito forte, sempre busquei entender os problemas do mundo para tentar melhora-lo.... Acredito que a educação mais ampla, durante infância, é a única forma de construirmos um mundo melhor. Que a ideia do movimento escoteiro é pedagogicamente fantástica, e a melhor fórmula para provocar mudanças culturais rápidas e significativas em qualquer sociedade. Que o aprendizado voltado as técnicas de sobrevivência traz aos jovens o sentimento da autossuficiência e autoconfiança. Que o trabalho em grupo, traz a habilidade de convívio social, a percepção da força da união. Que a disciplina e organização, trabalha as fraquezas da mente e reforça a certeza de colher bons frutos ao cultivar bons hábitos e que muitos outros bons aprendizados podemos ter com o método escoteiro...

Recentemente, a ideia de estar me doando ao movimento escoteiro pelo ideal de construir um mundo diferente, tem me causado dúvidas.... Não é uma dúvida quanto ao potencial do movimento, mas uma dúvida sobre o que o movimento representa para os diferentes grupos escoteiros. E o que ele representa para os subgrupos envolvidos: escotistas, escoteiros e pais.

Quando penso no que significa o movimento escoteiro lembro-me deste texto:

No seu discurso de encerramento da 9ª Conferência Internacional do Escutismo, realizada em Haia, em Agosto de 1937, Baden-Powell definiu assim a finalidade do seu Movimento: “o nosso objetivo último é criar homens viris para os nossos respectivos países, fortes de corpo, de mente e de espírito; homens em quem se possa confiar; homens que saibam enfrentar trabalho duro e também tempos difíceis; homens que saibam decidir por si próprios, sem se deixarem levar pela sugestão das massas; homens que saibam sacrificar muito do que é pessoal em prol do interesse mais vasto da nação. O seu patriotismo não deve ser estreito e mesquinho; pelo contrário, com a sua visão mais ampla, eles deverão ser capazes de ver com compreensão e simpatia as ambições dos patriotas dos outros países. ”

Hoje percebo que os motivos que levam as pessoas a se envolverem com o escotismo podem ser muito distintos e, por vezes, bem diferentes dos meus. Sei que muitos podem considerar meus ideais um tanto utópicos... e em parte até concordo, mas como dizia Eduardo Galeano:

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

Não estou aqui para criticar nem julgar ninguém. Acho que todos devemos ser livres para fazermos o que julgamos melhor.
Afinal, ninguém é dono da verdade... mas, ao mesmo tempo, existe uma verdade, uma realidade, um mundo de fatos concretos no qual estamos inseridos e que nos afeta constantemente. 

Estou certo de que, quanto mais conhecimento possuímos. E quanto mais verdadeiro, exato e limpo é este conhecimento, mais sábios e poderosos nos tornamos.

É neste sentido que imagino a educação dos escoteiros. Temos de dar a eles o melhor do conhecimento humano. O conhecimento mais vasto, útil, atual e limpo. Uma sabedoria que os coloque em destaque, que lhes abra portas e lhes de o poder para transformar este mundo. Quero colaborar para isso, dar minha contribuição!

A vida é uma aventura que passa rápido, mas as nossas ideias e nosso descendentes ficam!

Carta de despedida Baden-Powell
"Escoteiros: Se vocês tiverem visto a peça "Peter Pan", deverão estar lembrados de que o chefe-pirata estava sempre fazendo o seu "discurso de moribundo", porque receava que, possivelmente, quando chegasse a hora de ele morrer, não tivesse mais tempo para dizer tais coisas.
Acontece quase a mesma coisa comigo e, assim, e embora neste momento eu não esteja morrendo - qualquer dia destes eu morrerei - , quero enviar a vocês uma palavra de despedida. Lembrem-se de que será a última vez que vocês ouvirão minhas palavras. Portanto, pensem bem nelas. Eu tenho tido uma vida muito feliz e quero que cada um de vocês também tenha uma vida feliz. Acredito que Deus nos colocou neste mundo alegre para que sejamos felizes e para aproveitarmos a vida. A felicidade não provém do fato de ser rico, nem meramente de ter sido bem sucedido na carreira; e, tampouco, de sermos indulgentes para com nós mesmos. Um passo na direção da felicidade é o de tornar-se saudável e forte enquanto se ainda é jovem, de sorte que possa vir a ser útil e aproveitar a vida quando for homem.
O estudo da natureza mostrará a vocês quão repleto de coisas belas e maravilhosas Deus fez o mundo para vocês aproveitarem. Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado bom das coisas, ao invés do lado ruim delas. Contudo, a melhor maneira de obter felicidade é proporcionar felicidade a outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a vez de morrerem, possam morrer felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas fizeram o melhor que puderam. Estejam preparados, desta maneira, para viverem e morrerem felizes, sempre fiéis à Promessa Escutista, até mesmo depois que deixarem de ser jovens - e que Deus os ajude a cumpri-la. Vosso amigo, Baden-Powell."

Incrível como normalmente não pensamos na morte, na nossa finitude... por vezes, até evitamos! 
Mas me vejo impelido a entrar no tema para que percebam a importância e a dimensão que estou dando ao escotismo. Na verdade, me preocupo profundamente com o que será das novas gerações. 
O poder da mídia e dos diversos meios de comunicação estão cada vez mais hábeis em lavar os nossos cérebros e principalmente o das novas gerações. Cada vez mais o sentido da vida se torna o consumo e a moda, e cada vez mais nos tornamos dependentes e fúteis. 

Novas drogas "não químicas" como: games, aplicativos, redes sociais,... assolam a sociedade de forma silenciosa contribuindo como novas formas de “circo” lembrando a hábil política do “pão e circo” utilizada pelos governantes romanos para manterem o povo obediente, alienado e dócil...
Algumas destas mídias parecem viciar muito mais que as novelas, o futebol, e os telejornais sanguinolentos. Talvez, de forma mais danosa que algumas drogas químicas! Cada vez mais percebemos adultos e principalmente os jovens e crianças, grudados quase que 24 horas por dia. Como se hipnotizados por seus smartphones eles caminham e conversam desviando brevemente o olhar da tela. 
Não sou contra a tecnologia, muito pelo contrário! Acredito que temos de conhecer tudo do mais moderno, para usarmos com sabedoria! Ao mesmo tempo, sigo a filosofia de que devemos manter vivas as tecnologias da autossuficiência para possíveis dias difíceis e para que não nos tornemos fracos e dependentes.

Neste sentido é que me encanto pelo escotismo, focado no lema original "Be prepared"= estar preparado para tudo... ele se mostra um método focado na utilidade e na experimentação que cativa jovens e adultos...

Ainda estou aprendendo sobre o escotismo, mas percebi que ele tem tido uma penetração mais fácil junto as comunidades de menor poder aquisitivo. Tanto as atividades técnicas como as atividades lúdicas de baixo custo, parecem ser bem aceitas e satisfatórias para estes jovens. Já, para os jovens de famílias com maior poder aquisitivo, as atividades técnicas parecem menos atrativas sendo o foco principal as lúdicas (geralmente caras) que envolvem viagens, socializações e festividades. 

Acredito que o movimento deveria focar mais nas atividades técnicas e atividades lúdicas de custo baixo para atrair e manter os jovens das comunidades de menor poder aquisitivo.

Para o custeio de atividades ou bens objetivamente educativos, as rifas e/ou venda de produtos, me parece uma boa alternativa pois são propósitos que podem ser vistos como "necessários para a educação" pela comunidade do jovem de menor poder aquisitivo.

O exemplo seria o custeio de coletes salva vidas, velas para uma "embarcação escola", livros , cursos,...

Caso o propósito não seja o custeio de atividades ou bens objetivamente educativos como: viagens, socializações, festividades,... Acredito que a busca recursos externos como patrocínio empresarial seria o ideal. Caso não seja possível, sugiro a venda de rifas ou produtos, somente nos dias de atividade, como tarefa conjunta da tropa ou patrulha... não se estendendo para o âmbito familiar ou como atividade individual. 
  
Finalmente, gostaria de lembrar a todos: pais, escotistas e escoteiros, que a cada final de semana que nos reunimos, estamos diante da oportunidade de causar grandes mudanças para nossos filhos e para toda sociedade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário