sábado, 6 de setembro de 2025

🔑 Cooperativismo Suíço como Capitalismo Coletivo

 


1. Busca de lucro e reinvestimento

  • Cooperativas suíças não são entidades de caridade: elas visam lucro, mas os excedentes não vão para acionistas externos, e sim para os próprios membros (consumidores, trabalhadores, agricultores).

  • Isso cria um ciclo de acumulação interna, onde o lucro volta para a comunidade que consome e produz, fortalecendo capital local.
    📖 Gutmann (2024, Springer) destaca como Migros e Coop atuam como corporações de pleno direito, com estratégias de mercado agressivas, só que com estrutura cooperativa.

2. Dimensão corporativa

  • Migros e Coop, as duas maiores cooperativas suíças, controlam mais de 70% do varejo alimentar no país.

  • Elas praticam preços competitivos, reinvestem em expansão e possuem marcas próprias fortes — muitas vezes agindo de forma mais eficiente que multinacionais tradicionais.
    📖 Kalogeraki et al. (2018) mostram que o cooperativismo suíço é mais formalizado e corporativo que em outros países.

3. Autossuficiência e resiliência comunitária

  • Nas origens rurais, as cooperativas de crédito (Raiffeisen) e de consumo eram mecanismos de seguro coletivo: em tempos de crise, permitiam sobreviver sem depender de bancos externos ou capital estrangeiro.

  • Essa lógica continua: as cooperativas de habitação oferecem aluguéis 20% mais baixos que o mercado, atuando como estabilizadores sociais e econômicos.
    📖 Schmid (2005), Sánchez-Bajo (2024) sobre o papel social das cooperativas habitacionais suíças.

4. Defesa contra dumping e poder de mercado

  • Como cooperativas reúnem produtores/consumidores locais em escala, elas têm poder de negociação suficiente para resistir a práticas de dumping e até impor preços mínimos sustentáveis.

  • Historicamente, isso ajudou camponeses e pequenas vilas a não serem esmagados por grandes capitais externos, preservando a independência econômica.
    📖 Ostrom (sobre commons alpinos) + Linder (federalismo) ressaltam como a lógica comunitária reforça autonomia.

5. Capitalismo “mais profundo”

  • O modelo suíço pode ser visto como um capitalismo comunitário:

    • Não busca maximizar valor para acionistas ausentes, mas para os próprios membros (acionistas-usuários).

    • Alia eficiência corporativa à lealdade comunitária, resultando em maior confiança pública (81% dos suíços confiam em cooperativas vs. 32% em empresas privadas).
      📖 Pesquisa 2016 citada em Gutmann (2024).


⚖️ Comparação com o Capitalismo Tradicional

AspectoCooperativismo SuíçoCapitalismo Tradicional
ObjetivoLucro para reinvestimento comunitárioLucro para acionistas externos
Base de capitalPoupança e consumo locaisInvestimento externo e especulativo
ResiliênciaAlta (rede de autossuficiência)Média/baixa (dependência de capital global)
Poder de mercadoCooperação dá força contra dumpingEmpresas individuais vulneráveis ou agressoras
Confiança socialMuito alta (legitimidade comunitária)Baixa em comparação

📌 Conclusão

O cooperativismo suíço não é uma alternativa “suave” ao capitalismo, mas sim uma forma de capitalismo robusto, profundamente orientado ao lucro e à eficiência, só que anclado na comunidade.

  • Ele transforma consumidores e trabalhadores em acionistas de si mesmos, evitando a drenagem de riqueza para elites externas.

  • Em momentos de crise, fornece auto-seguro e poder coletivo; em tempos de competição, pode até praticar dumping de forma coordenada.

  • Por isso muitos autores falam em “capitalismo cooperativo” ou mesmo em um “capitalismo mais democrático”.

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