1. Busca de lucro e reinvestimento
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Cooperativas suíças não são entidades de caridade: elas visam lucro, mas os excedentes não vão para acionistas externos, e sim para os próprios membros (consumidores, trabalhadores, agricultores).
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Isso cria um ciclo de acumulação interna, onde o lucro volta para a comunidade que consome e produz, fortalecendo capital local.
📖 Gutmann (2024, Springer) destaca como Migros e Coop atuam como corporações de pleno direito, com estratégias de mercado agressivas, só que com estrutura cooperativa.
2. Dimensão corporativa
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Migros e Coop, as duas maiores cooperativas suíças, controlam mais de 70% do varejo alimentar no país.
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Elas praticam preços competitivos, reinvestem em expansão e possuem marcas próprias fortes — muitas vezes agindo de forma mais eficiente que multinacionais tradicionais.
📖 Kalogeraki et al. (2018) mostram que o cooperativismo suíço é mais formalizado e corporativo que em outros países.
3. Autossuficiência e resiliência comunitária
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Nas origens rurais, as cooperativas de crédito (Raiffeisen) e de consumo eram mecanismos de seguro coletivo: em tempos de crise, permitiam sobreviver sem depender de bancos externos ou capital estrangeiro.
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Essa lógica continua: as cooperativas de habitação oferecem aluguéis 20% mais baixos que o mercado, atuando como estabilizadores sociais e econômicos.
📖 Schmid (2005), Sánchez-Bajo (2024) sobre o papel social das cooperativas habitacionais suíças.
4. Defesa contra dumping e poder de mercado
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Como cooperativas reúnem produtores/consumidores locais em escala, elas têm poder de negociação suficiente para resistir a práticas de dumping e até impor preços mínimos sustentáveis.
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Historicamente, isso ajudou camponeses e pequenas vilas a não serem esmagados por grandes capitais externos, preservando a independência econômica.
📖 Ostrom (sobre commons alpinos) + Linder (federalismo) ressaltam como a lógica comunitária reforça autonomia.
5. Capitalismo “mais profundo”
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O modelo suíço pode ser visto como um capitalismo comunitário:
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Não busca maximizar valor para acionistas ausentes, mas para os próprios membros (acionistas-usuários).
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Alia eficiência corporativa à lealdade comunitária, resultando em maior confiança pública (81% dos suíços confiam em cooperativas vs. 32% em empresas privadas).
📖 Pesquisa 2016 citada em Gutmann (2024).
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⚖️ Comparação com o Capitalismo Tradicional
Aspecto | Cooperativismo Suíço | Capitalismo Tradicional |
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Objetivo | Lucro para reinvestimento comunitário | Lucro para acionistas externos |
Base de capital | Poupança e consumo locais | Investimento externo e especulativo |
Resiliência | Alta (rede de autossuficiência) | Média/baixa (dependência de capital global) |
Poder de mercado | Cooperação dá força contra dumping | Empresas individuais vulneráveis ou agressoras |
Confiança social | Muito alta (legitimidade comunitária) | Baixa em comparação |
📌 Conclusão
O cooperativismo suíço não é uma alternativa “suave” ao capitalismo, mas sim uma forma de capitalismo robusto, profundamente orientado ao lucro e à eficiência, só que anclado na comunidade.
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Ele transforma consumidores e trabalhadores em acionistas de si mesmos, evitando a drenagem de riqueza para elites externas.
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Em momentos de crise, fornece auto-seguro e poder coletivo; em tempos de competição, pode até praticar dumping de forma coordenada.
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Por isso muitos autores falam em “capitalismo cooperativo” ou mesmo em um “capitalismo mais democrático”.
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