sexta-feira, 26 de junho de 2015

Amigos escoteiros... antes que me rotulem de ateu...

Gostaria de contribuir com minha visão sobre o tema em questão da fé, espiritualidade, religiosidade... 
Acho que o escotismo tem uma penetração tão grande na vida das pessoas que o vivem, afetando e envolvendo tantos valores que... fica impossível não entrar na questão da fé. Sabemos que as organizações e unidades escoteiras devem se laicas - respeitando a manifestação livre da fé ou credo de seu membro. 

Mas esta é sempre uma questão delicada. São muitas as religiões. Mesmo quando dizemos que somos cristãos, não significa que temos a mesma fé... São inúmeras as igrejas que se denominam cristãs, cada uma contendo suas diferenças, defendendo suas interpretações acerca de textos religiosos, e se intitulando a detentora da "verdadeira palavra de Deus". Quando estudamos a história da humanidade, percebemos que quando os homens acreditam que descobriram a palavra de Deus, se sentem donos da verdade e todos os que não creem no que ele crê, passam a ser os “errados”, “ignorantes”, “infiéis”,”...”. A humanidade tem agido assim por milênios... E as diferenças religiosas aliadas a interesses econômicos, tem sido a raiz de quase todas as guerras da história humana.

A psicologia tem estudando esse fenômeno do comportamento humano e conseguiu dar uma boa explicação: - se todos acreditam que a terra é quadrada, a possibilidade de isto ser um erro, parece desaparecer... pois se isto estiver errado, todos errarão juntos e efeito do erro parece ser diluído e amenizado!!! Mas, no momento que alguém crê em algo diferente de você, automaticamente levanta a possibilidade de “você” estar errado e, consequentemente, de você ser inferior a ele. Pois o inconsciente humano já sabe que, aquele que detém um conhecimento verdadeiro, detém mais poder sobre as coisas e sobre os outros...  Exemplo: Na idade média... aqueles que acreditaram que a terra era redonda (sem bordas e precipícios) estavam certos!!! E ao se aventurarem por outros mares, obtiveram lucros financeiros e novos conhecimentos. Em contra partida, os que estavam errados, perderam status, poder econômico e político... foi o que aconteceu com a igreja católica a medida que a ciência desmentia seus dogmas...

Por estes e outros motivos é bem compreensível que parte da população escolha ser ateu ou agnóstico. O próprio ateísmo também é uma crença. Acreditar que deus não existe não prova que ele não existe! Podemos dizer que um ateu tem fé na não existência de um deus. Mas acredito que isto não os torna menos confiáveis, dignos ou menos valorosos para os propósitos a que se destina o movimento escoteiro. A própria palavra "Deus" na promessa escoteira tem sido adaptada para muçulmanos, hindus e budistas e até mesmo suprimida como em Israel: “Eu prometo fazer o melhor para cumprir meus deveres para meu povo, meu país e minha terra, para ajudar aos outros em todas as ocasiões e obedecer à Lei Escoteira.” A BBC anuciou:
No dia 1 de setembro de 2013 e 1 de Janeiro de 2014, as Guias e a Associação de Escoteiros da Grã-Bretanha respectivamente mudaram suas promessas, abrindo ambos os movimentos para ateus e humanistas.

No Brasil já existe um movimento neste sentido: O Escoteiro Ateu

Temos de entender o contexto histórico, os valores e cultura de Robert Stephenson Smyth Baden-Powell nascido em Londres (1857).

Pessoalmente, minha crença é que existem formas de inteligência superiores como a própria ideia de Gaia (Mãe Terra) a hipótese Gaia elaborada pelo cientista inglês James Lovelock afirma que toda a vida na terra é parte de um único ser vivo que, semelhante a uma colmeia de abelhas, é composto de inúmeros seres aparentemente independentes, mas que inconscientemente são guiados pela inteligencia superior deste ser que representa toda a vida na Terra. Esta ideia foi bem representada no filme Avatar (James Cameron) como sendo "Eywa" a força vital do planeta.

Assim como o escotismo aceita qualquer crença, seja: Alá, Brâman, Shangdi, Mawu, Olorun, Zambi, Guaraci, Jahbulon, Akazarus, Oxalá,... 

Neste sentido, aceito dizer que tenho uma religião de dois deuses, Gaia e o Cosmos (de Einstein e Spinoza). E que sou profundo perseguidor da minha religião (do latin religare = religar) pois creio que a humanidade perdeu sua conexão com a mãe natureza e com isto, perdeu também a sua capacidade de harmonia e compreensão maior do Cosmos. 

Vejo no escotismo uma filosofia que se enquadra com minha busca de estar mais religado a natureza, mais voltado a vida simples e sustentável, mais autossuficiente e preparado para viver neste planeta e próximo de outras pessoas que por vezes, consciente ou inconscientemente, estão num caminho semelhante.

Cabe detalhar, não acredito que o Cosmos ou Gaia existam em função do ser humano, acho que essa ideia do ser humano ser o centro das atenções de Deus, não me soa bem! É como a ideia de se achar o único ser inteligente do planeta. Sei que muitos animais possuem um bom grau de inteligência. E pensando bem, nem somos tão inteligentes assim! Olhe para sociedade e para seus próprios atos e vai descobrir uma grande falta de inteligência ou racionalidade!

E será que inteligência é a qualidade mais importante de uma espécie? Será que nossos 200 mil anos deste tamanho de cérebro aliados a toda nossa tecnologia nos torna mais aptos a sobreviver que os 500 milhões de anos de um crocodilo que sobreviveu a vários cataclismos. Será que a forma como temos usado a tecnologia não está causando a perda da rusticidade e adaptabilidade de nossos corpos?

Lembremos, que há meros 28 mil anos não eramos os únicos seres inteligentes sobre a terra. Nós, e os hominídeos de Neandertal e os Hominídeos de Denisova, éramos tão parecidos como são os orangotangos dos chimpanzés. Mas, apesar da nossa ideia hollywoodiana de homens das cavernas... nós e eles, éramos tão inteligentes como somos hoje... tínhamos o mesmo tamanho de cérebro - só nos faltava conhecimento, tecnologia. Após um período de convívio que parece ter durado mais de 4 mil anos, as tentativas de acasalamento "interespecies" parece ter funcionado e hoje cientistas comprovaram que nós os "homens modernos" em áreas especificas do planeta costumam carregar o genes oriundos de Neandertais e Denisovanos. Acredita-se que por serem menos nômades que nós, eles não puderam se adaptar aos rigores da última era glacial e acabaram extintos! 

No meu ponto de vista, a vida é um jogo de apostas em um futuro incerto. E as diferenças de crenças são ótimas e vitais para a capacidade de sobrevivência (Nunca ponha todos os ovos num mesmo cesto!). Cada um é livre para crer no que quiser!! Mas somente os mais preparados “be prepared!” para lidar com a realidade dos fatos e os reveses do futuro, restarão por aqui!!! Talvez haja uma nova glaciação, e os únicos que sobrem sejam os esquimós... ou uma crise de alimentos e só sobrem os mórmons que estocam alimentos para muitos anos... Quem sabe o que virá?! Façam suas apostas!!!

... Por fim, para reflexão, deixo com vocês o “Paradoxo de Epicuro” o paradoxo proposto pelo filosofo Epicuro (341AC—271AC) usando o raciocínio lógico, questiona as três características de Deus:  omnipotência, onisciência e onibenevolência (bondade).

1)      Se Deus é onisciente e onipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é onibenevolente.
2)      Se Deus é omnipotente e onibenevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e onde o mal está. Então ele não é omnisciente.
3)      Se Deus é omnisciente e omnibenevolente, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele não é omnipotente.”

“Epicuro não era um ateu, apenas rejeitava a ideia de um deus preocupado com os assuntos humanos. Por isto, os deuses não teriam nenhuma afeição especial pelos seres humanos e segundo a observação do problema do mal, ou seja, da presença do sofrimento na terra que Epicuro chegava à conclusão de que os deuses não poderiam estar preocupados com o bem estar da humanidade.”

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